sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Foi longo o cativeiro, pleno de dor e sofrimento, escutando bastas vezes dos outros o grito do lamento.
Certa vez, junto ao meu catre e vestido de amarelo. alguém resolveu falar, monologando, sem resposta esperar, semelhando um momento de experiência e aprendizagem.
Fizera um retiro de formação cristã e só então passara a acreditar em Deus, que, pese embora nunca o tivesse ouvido, lhe passara a falar, não oralmente mas por sinais e nunca se sentira tão feliz, tão forte passou a ser essa sua crença.
Disse também que em tudo existe o seu contrário: no bem o mal; ódio no amor e  dúvida na certeza, completando-se.
Foi meditando nisto que sinceramente me retrato de alguns pequenos textos em que me permiti colocar em dúvida a crença de outros seres, usando alguma rima fácil mas não grácil, imbuída de ironia e mordacidade, esquecendo que somos iguais e diferentes e todos aqueles que por essa crença e através dos tempos até deram a vida.
Coisa injusta de que me redimo e assumo culpa, pois, na verdade, se um ser acredita em Deus, então esse Deus existe nesse mesmo ser.
Quantos de nós passaram ao lado de sinais sem voz, sem lhe conceder importância, mas porventura de conteúdo passível de alterar os nossos percursos de vida se devidamente entendidos ?
Depois, tarde, mas tarde, lembramos os "ses" quando o tempo de alterar esses percursos está esgotado.
Agora não me restam dúvidas. Há que bem entender, no momento,os sinais que vamos recebendo.
Bem haja esse ser que de mim se aproximou, concedendo-me um pouco da sua luz

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Certa noite, deambulava eu, zonzo, pelos corredores do inferno, quando alguém, talvez o responsável da zona, questionou abruptamente: o que é que você quer ?. Ciciei: esquecer, descansar e dormir, mas não consigo. Deite-se e finja que dorme, foi a sugestão insensível e brutal.
Porventura ando desde aí num verdadeiro faz de conta a tentar o fingimento e a lógica que disto retiro é que o inferno é um verdadeiro labirinto em que todas as portas escaldam e ao mesmo vão dar, com gestores  de sector em tudo semelhantes.
Lá me perdi outra vez e agora, como prova o texto. até finjo que escrevo, mas como também finjo que assino ninguém saberá que fui eu.
Para animar as tropas está muito em voga e é constante ouvir: um dia de cada vez.
Acho que me bastaria um dia de vez quando, se me for concedido.

sábado, 2 de outubro de 2010

aniversários

Não gosto de comemorar aniversários e porventura é nessas datas em que maior percepção temos de que existimos em nós e fora de nós, pelas manifestações de carinho e ternura de quem nos ama, emprestando-nos a ideia do mérito de termos qualidades bastantes para sermos amados. e permitindo a  ubiquidade, pensando que aqui existiremos mesmo depois da partida para as grandes planicies.

Foi para mim ontem um desses dias e os meus bichinhos presentearam-me com presença, carinho, ternura e mimos a não esquecer, incluindo os meus dois blogues agrupados em caderno e com prólogo que passo a transcrever.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

LABIRINTOS

O leigo chama de louco todo aquele cuja conduta é aberrante ou no menos desviante das linhas de comportamento que o homem foi estipulando como normais na sua ansiedade de harmonia global que certamente jamais atingirá.
E daí, cada mente, esse labirinto em que também o homem se perde com demasiada frequência, carrega com isso labutando na vã tentativa de enquadrar o bem e o mal, o certo e o errado. valendo-se do contexto e do conhecimento que lhe vai sendo impingido no curto ou às vezes longo percurso no manejo do uso e costume e sua dificil integração ao meio.
Um destes dias, estando eu num snack olhando absorto a chavena do café, um casalinho, ao lado, pediu dois pregos à jovem funcionária que de seguida replicou que a loja de ferragens era em frente.
Logo a seguir, contente pela loucura dos outros, saí e entrei na loja ao lado a namorar uns sapatos, contando contrariar a minha incapacidade decisória na compra dum par.
Era dia de sorte, estava a ser atendido um sujeito manifestamente com pé 41 que exigia o funcionário lhe ensaiasse sapato 35 e, perante o espanto do profissional, rogava suplicante.
Oh homem ajude-me. Esta semana foi demais, perdi o emprego e o carro, a mulher deixou-me e a TV avariou.
Insisto, quero 35 e levo calçado e já antevejo o gozo que vou sentir quando chegar a casa e me sentar no sofá que lá resta e tirar os sapatos.   Bolas, alguma coisa de bom me aconteça hoje.
O dia estava a correr bem mas não ficou por ali.
À saída, satisfeito e coxeando, lá se foi e, grato, despediu-se de mão do funcionário.
Logo de seguida este começou a contar os dedos.
Aquilo começava a ser demasiado para mim, mas, perante o meu justo espanto o homem explicou.
Era extremamente desconfiado e receava que naqueles apertos de mão a um desconhecido e a bater mal, lhe roubassem algum dedo.
Bom, com tanta areia já tinha a camioneta cheia e saí, sem apertar a mão ao homem, mas um pouco horrorizado por ver que aqueles tipos dificilmente encontrariam a saída do labirinto em que sem cuidado se haviam deixado meter.
Ando eu por aqui a apregoar que sou louco quando, afinal e se comparado, sem modéstia, serei porventura dos mais certinhos.
Também entrei e percorro o meu labirinto mas tive o cuidado de ir deixando umas pedrinhas pelo caminho e, em caso aflitivo, poderei facilmente retroceder e sair pela entrada, não ficando cativo da necessidade de encontrar a unica saída.
Os sentidos do ser humano são na realidade armas poderosas.
Vá vamos sorrir para não deixar fugir esse que é o do humor porque o do amor está de pedra e cal, a residir.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A RIQUEZA DOS AFECTOS

Os afectos compatíveis podem ser em cada ser compostos em ramalhete, pois  amor, ternura, carinho, meiguice, são no seu todo frutos da mesma semente embora de diferente coloração.
O senão é que podem não florescer em conjunto no mesmo ser, acontecendo que quem não os reconhece quando os recebe é quase certo ser paupérrimo nessa área e, não os possuindo, não os pode redistribuir.
Vem isto a propósito do horror demonstrado por mulher adulta, mãe e avó, (provando assim a inexistência de afectos na sua triste alma) quando lhe confidenciei que, desde sempre tratava as minhas netas por meus bichinhos.
Elas, minhas netas, hoje a entrar na idade adulta, sempre rodeadas de amor, ainda não dispensam esse tratamento, pois além da entoação com que o faço elas sabem bem que são base e topo da pirâmide dos meus afectos e para sempre vão viver na minha alma.
Sabem também do meu amor, respeito e aceitação de todos os seres que a natureza colocou ao nosso redor de forma a prestar um pouco de beleza à vida,
Até diziam que eu falava com os animais porque, obtendo resposta da minha imitação de seus pios ou cantares  tinha o engenho de lhes contar o que me respondiam.
Assim e contrariamente a outros bens, essencialmente materiais, os afectos tem esse dom lindo de enriquecer quem os dá, engordando a alma como diria amiga minha, e satisfazem plenamente quem os recebe desde que os compreenda e, nesta área, só se poderá compreender aquilo que efectivamente se possui ou sente.
Já tinha prometido enviar para a gaveta estes loucos textos que vão chamar de treta mas este ainda terá um pouco de vida virtual.
Desculpem lá qualquer coisinha, mas o louco sou eu.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

BÚSSOLAS

Em seguimento ao texto das encruzilhadas e pelo telefone falou-me um sujeito que a preceito me questionou porque não comprava eu uma bússola na tentativa de encontrar o caminho certo em vez de escrever estas merdas a chatear os outros.
Não, não fiquei estupefacto, porventura o facto até resultou catita e virtuoso, porque assim já somos dois a pensar o mesmo da qualidade da minha escrita.
Nem me passou pela cabeça chamá-lo de cretino, pois, aproveitando a sugestão, logo fui à cidade a loja da especialidade e solicitei à atenciosa jovem me vendesse uma boa bússola capaz de me indicar um bom destino.
Respondeu ter algumas mas, funcionando e com sorte, apenas indicariam o norte.
Foi repentino este toque de campainha, pois também já me haviam chamado de desnorteado e, sendo assim, até convinha e, porque não, talvez fosse a solução.
Comprei uma e aproveitando a gentileza perguntei se tinham GPS que indicasse o caminho para a felicidade mesmo para gente da minha idade.
A resposta negativa, tão perfeitos não tinha mas aguardava, lá para o verão, de alguns próprios para pessoas sem razão.
Com a promessa de voltar, fiquei-me pela bússola, mas como sou poupado logo pensei procurar outro desnorteado.   Seguiria acompanhado, teria com quem falar e as despesas da viagem partilhar.
Há sempre a hipótese de, quando chegar ao norte, daquilo não gostar e sempre será mais útil outra cabeça a pensar para saber a melhor forma de regressar.
Todavia mesmo que parta sózinho vou pôr a pata ao caminho, pois quando lá chegar se vir que aquilo não agrada de algum modo hei-de sair.
Mas antes a chave do blog vou deitar ao caixote para não ouvir mais dichote.
Ena, escrevi tanto e tão malinho! O tipo tinha razão !!!

domingo, 5 de setembro de 2010

ENCRUZILHADAS

Lá consegui dar a volta ao espelho e tanto insisti que, for fim, me mostrou o menino que por força tinha de ter existido em mim. A perseverança sempre resulta mas não se compadece das agruras do percurso.
Alguns pretensos filósofos afirmam que fazemos o nosso próprio caminho, o que parece uma verdade à La Palice, sendo óbvio que a opção é quase sempre pessoal e o dito só pode servir o sentimento de culpa após verificação do logro na escolha.
Na pele desses filósofos e prevendo situações de indecisão que tantas e tantas vezes nos assaltam, sugeria não esquecermos duma moedinha para, quando deparamos as encruzilhadas substituirmos os anseios, os engodos, as duvidas e as incertezas pelo acaso do cara e coroa tornando à moeda as culpas e à malvada da sorte, todo o tipo de regozijo ou lástima pela decisão tomada.
E, na falta da moeda, restará o dólitá que no mesmo dará.
Cá está o cruzamento e eu vou por aqui sem lamento e curioso, pois fiquei engodado ao ouvir o murmúrio sussurrante de água a correr e estou sequioso, quero beber e, pela fé que tenho, pode ser até resulte em maravilhoso banho.
Olho o teclado e dão-me certas ganas de o atirar pela janela, libertando-me de vez desta mania de escrita louca em que acabo por dizer coisa pouca.
Bom caminho e, se me sobrar carinho, poderei escrever em folha, rascunhando estas coisas de treta que acabarei por enfiar no escuro daquela gaveta.
Claro que continuo com loucura mansa, mas, como quem procura sempre alcança, dizem-me que além de manso sou louco moderado e até estou medicado e as pastilhinhas são magenta.  Lindo.
Bem, este ainda publico!
Até um dia e não sorria, pois pode acontecer a todos e, como não me parece grave, desejo as pioras porque de fechar o blog começam a ser horas.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CONVERSAS DE ALMA


É a palavra escrita, entre outros, um poderoso meio de partilhar afecto, sendo comum o envio do beijinho e abracinho que sem concretização física, deixa, no menos, a intenção da carinhosa ternura.
Porventura, mesmo por essa via, existem seres que nos passam ao lado, outros nos roçam e alguns mas poucos nos atravessam e enlaçam a alma.
Um desses últimos escreveu há dias que em frente ao mar eu lhe surgia à memória.
É um afago que, para além da ternura implícita, me dá o agrado de saber que consigo existir para além de mim e eventualmente haverá alguém que poderá ter prazer na minha lembrança.
Desconhecendo a mágica, motor do facto, todavia convicto estou serem impenetráveis segredos de alma que assim se engorda certa da presença do outro.
Podes crer que quando fitar o horizonte sobre as águas, não deixarei de te ver a caminhar sobre esse teu domínio e vou acenar-te com carinho para que saibas que também em mim existes fora de ti.
Por agora fica com aquele beijinho bem intencionado, jamais concretizado e o abracinho longo e sem aperto e sempre que contemplares o mar ou o céu lá estarei contigo.
Falta aqui algo que o sistema não deixa mas terei de voltar para evitar a queixa.  Até lá*******

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Porventura será verdade e o ocaso não surge por ACASO  e eu continuo o mesmo, nada tendo melhorado desde Fevereiro do ano passado em que publiquei o texto aqui linkado.  Paciência, abatam-me ao efectivo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Feitiço de amor

CAcrílico sobre tela 30cm x 30cm, com adaptação em computador
Ouvi um estrondo no jardim, acorri.
Ela estava ali, olhando para mim com todos aqueles olhos verde cinzento, sóbriamente despida, o que na foto escondi, e do penteado nem falo. Linda !!! Sorri.
Quis dizer algo fosse cativante, aquelas palavras que todos dizemos ao visitante , nada significam e ninguém ouve, mas são de bom tom.
Não expressava som. Fiz um esforço, e, sem nexo nem desejo, pronunciei: AMO-TE. Não tive outro ensejo.
Todos os seus olhos brilharam e convidou-me a sair.
Peço perdão, seria convite ou intimação ? Tive de ir.
De vontade anulada, sorri de novo e abraçados lá fomos, calçada fora em longa passada.
Quem connosco cruzava voltava a cabeça e mirava, êxtase, cobiça e inveja. Dentada de ciume jamais sentira e ninguém deseja, mas a ferroada levei e, como acontecia, não sei.

Já o passeio me cansava e não trouxera bagagem para esta viagem. Contudo... continuava sorrindo.
Para quebrar o derriço, certo do feitiço, num lampejo de razão, a custo e sem susto, perguntei-lhe então quem era, donde vinha.
Sou a morte me disse com voz de afago, venho duma estrela pra lá do sol e tens sorte, para vires comigo, eu trago um lençol.
E levou-me...

Como se trata de um estado de espírito, fiz renascer este texto dentre cinzas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DESENCONTROS

 Se nunca te vi, nem um abracinho te dei, não te olhei, não te cheirei, não tacteei o teu rosto como te vou conhecer perdida na multidão ?
Fico-me por ter roçado tua alma. 
Olharei todas e ficarei na escuridão, embora ouvindo os cânticos, e vais continuar no meu pensar.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

COMUNICAR

Comunicar parece ser o que deveríamos fazer quando contactamos uns com os outros.
Porventura nem sempre assim sucede e subsiste alguma dificuldade em entender o que o outro quer dizer com aquilo que expressa. Muitas das vezes o fenómeno tem lugar simplesmente por serem diferentes os conceitos em cada cabeça.
Ouve-se com alguma frequência e sem recato: vamos fazer amor !
Já sobre isto escrevi e na verdade se se faz, é coisa que se pode comprar feito.
Muita gente ficaria satisfeita com a dispensa dos indispensáveis preliminares. Ia à loja e levava a dose já cozinhada ou fabricada, digamos.
Não quero ir por este trilho, para não arranjar sarilho, mas há outro tema com que me enchem as orelhas e me farto de escutar:
Não tenho tempo, estou só  a fazer tempo, acabou-se o tempo.
Vejamos que afinal o tempo também parece fazer-se e depois isto tem significado diferente dependendo do respectivo contexto.
Se convido uma mulher atraente do meu convívio ou trabalho a beber um café a resposta é tal e qual.
É pá gostaria muito mas não tenho tempo. quando seria mais honesta, mais prática e mais convincente se respondesse que não, que sou velho demais para essas coisas ou muito louco ou que se excita com café.
Nos hospitais ou outros locais de visita e de repente lá aparecem aqueles senhores vestidos de branco ou azul que exclamam:  acabou-se o tempo, como se fosse coisa para acabar, mas, ali, por vezes, dão consolo a quem fica e a quem tem de sair. Do estilo acabou a algazarra.
Normalmente as pessoas vão a coisas que supõem vir a apreciar e à saída lá exclamam: isto foi uma perda de tempo. Absurdo, voltem atrás e recolham, se perderam talvez reencontrem tudo, pois suponho ninguém roube tempo.   O quê ?  Diz ali aquele senhor que é o que lhes estou a fazer.
E no meio de tudo isto fico sem saber afinal o que é o tempo e se afinal se fabrica ou não, embora alguns digam que é no espaço uma dimensão, o que para mim e muitos outros parece continua a ser embaraço.
Sei, de fonte segura, que é coisa que não pára enquanto dura.
Outros dizem que é carga que trazemos à nascença e temos de ter cuidado no seu uso, pois, se acaba, entramos em parafuso e lá vamos nós.
Vou tentando gastar o meu em algo que me dê algum prazer e sempre digo, pode ser em tudo menos comer.
E como não o devo usar desgastando a paciência dos outros, se calhar vou terminar e em tudo isto vou matutar, claro, se mais algum tempo me restar.
Ajudem-me tentem explicar-me.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

DORMIR

Quando de manhã vamos acordando e o relógio permite mais um soninho, cometemos o erro de encher a memória interna de projectos, sonhos, fantasias e outras impossiveis manias que ali ficam a bulir e acabam por não deixar dormir.
Não estando acompanhado, ou na certeza de não incomodar alguém, é aconselhável sacudir a cabeça duas ou três vezes e ao outro lado voltar.
Quase sempre resulta, sem garantia claro.
Olha !!! Estava em eminente perigo mas resultou desta vez. Vou continuar a dormir até alguém me sacudir.

FASCÍNIO

Era uma mulher linda, de olhos lindos e profundos.
Daqueles olhos em que apetece, cerrando os nossos,  mergulhar o sentimento e procurar-lhe a alma, sem olhar a perigos, manifestamente numerosos e singelamente se enumeram para salvaguarda dos mais cautelosos.
1. Se as profundezas forem tão agradáveis quanto as superfícies e depararmos com a alma, corremos o risco de não voltar à tona, por lá ficando perdidos, enamorados, e certamente vai doer.
2. Se hesitarmos no mergulho e a contemplar em demasia ficarmos, pode andar por perto um sumarento que não goste do olhar e nos estrague o fardamento.
3. mergulhar quando ela pestaneja, o tanas, corremos sério perigo, fortuito e não a propósito, e ficaria o lamento de esmagar o sentimento entre pestanas.
4. Porventura e segundo o meu ponto de vista, quando os olhos são lindos de ver e a cor e alma estão a condizer, os perigos nunca serão problema pois valerá sempre a pena.
5. Para terminar, e como vantagem minha, se disser tudo isto, sem ser mal educado, a uma mulher possuidora de tal predicado, ela vai exclamar: LOUCO!!!
O que me traria felicidade, por alguém dar mérito e reconhecer essa minha capacidade, seja lá o que seja !

Bom, fico por aqui, pois bem me parece que já escrevi demais e ordem ponho nisto, tranco o pensamento e dou fim ao sonho.
Para tanto amor seria bem pouco uma flor e, por mim, sendo assim tão louco, aqui deixaria um jardim.
Para ti.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

bons e maus

Entrei no autocarro e logo a gorda mulher encetando conversa com o vizinho lhe dizia que os homens bons só se encontravam no cemitério.
Pois, o dito daquela mulher levou-me aos anos da minha juventude em que o cinema americano nos injectava os ditos filmes de aventuras (índios e cowboys), cavalgadas, tiros e setas, onde era de uso ouvir os bons (??) dos cowboys a dizer que índio bom era índio morto.
Por isso lá pensei que no cemitério a que se referia só haveria bons homens enterrados, naturalmente.
Mas não e a trovoada chegou depois quando ela disse, à laia de explicação, que era bastante fácil encontrar bons e piedosos homens, chorando, na visita ao túmulo das ex-mulheres.
Bom só faltará a abertura de esplanadas e a marcação dos respectivos encontros para partilhar passado e futuro, embora a envoltura não seja das mais agradáveis.
A observação destas coisas tem para mim um certo factor benéfico, pois assim me vou convencendo que afinal não sou tão louco quanto pensava e manifestamente há bastante pior, embora não seja menino para me comprazer com o mal dos outros.
Todavia a loucura mansa nem é grande tortura e por vezes assenta bem.
Nem falo aqui de flor, mereça ou não, lá me começavam a perguntar se era para pôr em caixão.
Continuo sem aprender nada e ganhei apenas o recuo à juventude.
Hoje não tomo a medicação.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MIMOS

O flagelo das drogas, podem os mais incautos tomar nota, não se basta na habituação e dificil fuga das pesadas e também das mais ligeiras, como o álcool e o tabaco, todas de trabalhoso e complicado divórcio.
Existe uma, ligeirinha, ligeirinha que por sinal não tem preço e é por hábito trocada em ternurenta cumplicidade
O mimo, coisa terna prenhe de carinho, prova de que existimos fora de nós e na mente de quem nos ama.
Quando de boa gema faz cerrar os olhos, inebriando alma e coração, virando vicio num ápice.
Apesar de leve não deixa de possuir o perigo de poderosa habituação que consigo arrasta a dor da carência, havendo por tal de ter o máximo cuidado nas trocas de forma a assegurar que o cúmplice não interrompe a permuta.
Vou ficar por aqui pois se a minha querida neta lê o texto lá virá com a sua assertiva critica: Lá está o avô a dar para o sentimento!!
Aproveitemos a plenitude do mimo que só faz bem à saude.
Também terá de levar flor porque é de puro amor, mas hoje não trouxe a chave do jardim.  Cá virei a seu tempo.

AMOR E MAGIA

Dizia eu em tempos a uma amiga em tom de desabafo que as mulheres que ainda me atraem, necessariamente pelo conjunto da beleza física e espiritual, duma forma geral ou já comprometeram os seus afectos ou olham em primeiro plano à minha idade, em detrimento de outros atributos físicos ou intelectuais de que ainda felizmente disponho.
O que daqui retiro é que não acreditam naquela treta tão apregoada na publicidade do vinho do porto.
Quando me surge uma cuja atracção me dilacera, quase desejava ser mago além de meigo, para lhe conceder um acréscimo à idade de 15  20 anos, assim conciliando as coisas.
Porém o sujeito sensato que me enche o coração e a mente, o tal que elas não conseguem descortinar, de imediato me pergunta se eu gosto tanto dela para quê projectar-lhe tanto mal ?
Estou a ouvir um comentário ali do fundo daquela senhora morena de vestido vermelho:
O tipo é velho e louco !!!!!
Pronto é o costume e eu que estava esperançado de vir aqui aprender alguma coisinha, só levo com o que já sei e é evidente.  Paciência, pode ser que não seja nada
Para já vou continuar sem orelhas para mordiscar enquanto em sussurro pudesse partilhar os meus afectos e problemas vivenciais.
Ah isto terá pela certa de levar flor.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

CORPO E ALMA

Ñão retiro grande agrado das minhas deslocações à capital, minha cidade natal.
No entanto, é verdade, quase sempre ouço ou vejo coisa que deixa minha mente em fervura e, por tal, e antes que as bolhas prejudiquem o respectivo texto, logo que chego tento transmitir ao teclado o resultado da safra.
Lá vai, contrariando quem não gosta de viajar de metro.
Sem grande margem de erro, estou convicto poderei afirmar existir consenso alargado que são os humanos um composto de corpo e alma, ressalvados alguns desalmados que as noticias e os factos diariamente nos apontam.
E foi por este caminho o tema ouvido em extenso paleio num percurso em transporte publico, onde, além da deslocação óbvia, temos tantas vezes que levar com insólito historial da vida alheia, pela falta de recato nas conversas e níveis de voz utilizados pelas impostas companhias que não conhecemos nem interessam mas que por vezes nos aportam algum conhecimento de nós próprios se os extrapolarmos.
A pergunta que colocaram foi para mim pequena bomba a que tentei tirar o detonador e depois despiolhar:
Somos um corpo com alma, ou uma alma com corpo.
Pede uma resposta que, seja qual seja, implícita grande exposição da personalidade do respondente e seu percurso de vida, pois aceitando-se ser alma com corpo, este, como seu veiculo, facilmente e pela sua prática,facilitará a leitura das expressões da alma, desnudando-a tal e qual como a personalidade. e já a resposta corpo com alma, fica um pouco fora deste contexto por não estar a ver o corpo a dominar a alma.
Bombinha despoletada fácil foi adaptar as suas várias facetas, tentando comparações à minha forma de estar tento cumprir a finalidade suprema tão em voga do conhece-te a ti próprio.
Enfim foi um cenário que deu luta e por tal gostei, gostei e gostei.
Cá virei colocar uma foto duma carruagem de metro e também acho que merece flor.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

capacidades

Neste mundo competitivo acontece criarmos os nossos próprios problemas quando verificamos não sermos capazes de...-  seja isso para o bem ou para o mal, existe sempre o desconforto ao ego.
Olhando para mim e para o meu longo percurso, jamais me embriaguei o que  parece insólito quando olhamos à volta com critica ou inveja.
E não é que não o tenha tentado, todavia o corpo recusa e contraria o espírito.
E a funcionar assim quer na rejeição dos defeitos ou virtudes é óbvia a necessidade do domínio psicológico para que não se gerem feridas por tão bizarras causas.
Na área do ciume esse sentimento bizarro, nefasto e estranho de pseudo dominância, tentei também senti-lo e em determinado tempo tentei procurá-lo, provocando-o.
Tenho hoje a garantia ser capacidade absolutamente dispensável pelo estúpido impacto que provoca.
Fiquei curado. Nunca fui sumarento assumido nem serei. É um sentimento de posse e domínio cortando a liberdade ao outro e que jamais poderá coabitar com o verdadeiro amor

Flor ?  Claro que merece, vou ali ao jardim procurar e aqui com ela hei~de voltar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

RAIVAS

Há uns dias ia a sair aqui do sitio e fui abordado por duas mulheres entre os 5o e 6o anos de idade e uma delas, digamos talvez a mais atraente, com seu rosto bonito e cabelos dourados, resolveu ser a interlocutora da nossa conversa e colocou a questão se eu era crente.
Respondo sempre com a minha verdade. Como seria eu capaz de não ser crente ao saber que um minúsculo espermatozoide, de conluio com um também minúsculo óvulo, conseguiram criar aquilo que estou a ver e me agrada mesmo, tal como a minúscula semente lançada à terra pode originar uma magnifica e altaneira árvore.
Fiz um espaço para caberem algumas outras questões que lhe bailavam no cérebro e a minha tentação era ter continuado como segue e que não fiz.
Se a sua pergunta implícita a crença num todo poderoso Deus, eu teria de lhe perguntar porque foi retirada do meu convívio uma filha que hoje teria aproximadamente a sua idade e estou certo que qualquer resposta me desse seria quase um insulto à minha inteligência.
Despedimo-nos cordialmente.

domingo, 25 de julho de 2010

sangramentos

Sendo o sangue o fluido de circuito interno da manutenção de vida, parece razoável que todos tenhamos algum pudor e receio, quando o vemos fluir por uma qualquer fissura naquele seu tom avermelhado vivo.
Já até li ou ouvi aleivosia tamanha deste género: desconfio dum animal que sangrando todos os meses e abundantemente durante alguns dias, não morre. O que só prova que se a estupidez evitasse a crise, decerto o País não estaria no estado actual, ou, se por acaso fosse musica, andaríamos por aí quase todos bailando, mesmo os de estupidez assumida.
Mas, voltando ao tema, acho que é um chato dum encargo que a mulher assume e suporta, essencialmente para assegurar aquela sua brilhante e suprema capacidade de ser mãe.
Sendo talvez o que me detém no desejo de ser mulher, esse ser maravilha, mãe do mundo.
Mas o sangramento não é pêra doce, é chato mesmo e eu que o diga que hoje, pela terceira vez me aconteceu ao dar uma cabeçada no portão da garagem insuficientemente levantado, não se compadecendo apesar da minha baixa estatura.
Podia assacar a culpa ao cão que me estava a distrair, mas não sou de colocar a culpa ao outro quando ela aponta na minha própria direcção, aqui a falta do necessário cuidado.
Valeu-me, nas outras vezes, o conselho imediato do meu bruxo, palavra de mimo que empresto ao médico e não sem sentido, pois é profissão bem dura que, além do conhecimento e dos meios comuns de diagnóstico hoje ao dispor, concorre ainda com a falta de informação pessoal do próprio interessado que na maior parte das vezes se convence que a profissão há-de conferir ao outro alguns poderes mágicos de adivinhação.
Assim, no caso de hoje, aproveitando o anterior conselho, lavei o caudal e pressionei durante algum tempo o local contuso.
Depois lá consegui, bem ou mal, betadinar o local e aqui estou de sangramento aparentemente retido.
Passarei a ter mais cuidado com o portão da garagem.


Ao meu bruxo, o meu reiterado carinho e a flor

quarta-feira, 21 de julho de 2010

SEDUÇÕES

Forçosamente anda o juízo arredo da minha existência, que por longa até permite margem de desculpa, corrido o risco de apelidarem de macaquices a minha branda loucura.
Em face dum comentário privado a um texto de blog e que a visada encontrou assertivo, no escrito entrou a sedução e os seus efeitos, quiçá maléficos, segundo sua recente experiência.
Como em tudo na vida, pelo que vemos, até nos sedutores existem brechas de ética.
E pronto, foi lume suficiente para levantar a fervura na minha panela e logo me lancei na procura de solução, juntando ideias à volta do conceito, não fosse saltar-me a tampa, provocando a consequente perda de ideias que já vão escasseando.
Sem ir ao livro cheguei a um resultado parecido comigo.
Sou seduzido pelo que me agrada e adoça a existência e, tratando-se de outro ser, acho que a coisa merece alguma inteligencia e caldos de galinha.
Seduzir tem a ver com o desejo que o outro me aceite e implícita a ideia de que a alguém agrada saber que sou. É sim um jogo de vida e de espelhos, duma ampla troca de imagens e sentires, concretizando-se o processo no encaixar de afinidades, sem utilização de falácia ou astucia, antes pela prática da humildade, sinceridade e respeito, sem o que suponho nada feito.
Não quero com isto dizer que o outro me caia nos braços, patamar que a ser atingido pode ser extremamente complementar, ao permitir o toque nesse enlace entre sedutores e seduzidos e aí fundir todos os sentires em algo mais além.
Será. Aqui deixo o grito !
Seduzam-me, seduzam-me, seduzam-me...

IMAGENS

Ainda ensonado, encostei a barriga ao lavatório e, olhando em frente, lá estava o sujeito do costume, envelhecido, barba por cortar, a fazer cair sobre mim um olhar triste e inquisidor.
E, como todas as manhãs, ainda não convencido, tentei mais uma vez encontrar, no que via, o menino que por força ali se esconde e sinto pulular cá dentro e, pese embora jamais o tenha descortinado, sei que existe.
Vou dar ao espelho o beneficio da duvida, talvez não seja tão astuto como se pensa, e fico na esperançada ilusão dessa visão, quão grata me seria.
O reflectido algo acrescenta, pois fico a saber como os outros me vêm quando com eles me cruzo e não como me sinto, ficando triste por também não lhes ser possível verem este menino que não ressalta à vista mas se entretém na brincadeira com a grande panóplia de sentires que o coração à disposição lhe deixa, gerando por vezes aquela confusão e desarrumo tão normal nesses seres limpos e puros.
Ah quem me dera houvesse espelhos com coração e ternura e fielmente me reflectissem.  Dizem estar tudo inventado mas a verdade, a minha, é que ainda não encontrei um assim.
Vou continuar nesta busca que reforça a minha mansa loucura. Procuro, procuro, procuro...
Se por acaso o encontrar trarei aqui a foto. Prometo

sexta-feira, 16 de julho de 2010

PELES

O homem desde há muito, servindo-se do seu engenho e da tecnologia, fabrica tecidos com que se agasalha.
Eles tem origem nos mais variados materiais, servindo o negócio e a insatisfação humana, em constantes mutações a que, por principio, apelidam de moda.
Palavra que aqui significa: isso ainda te serve, mas o vizinho já tem diferente e mais moderno, cobrindo e servindo assim outros defeitos da humanidade a que me reservo o direito de não colocar nomes.
Há contudo uma rainha no fabrico de tecido que a todos supera:
A natureza resolveu dotar o pobre homem dum tecido riquíssimo e assim a pele humana e os seus milhões de pontos sensíveis é, pelo menos sob o meu ponto de vista, a maravilha que delicia a polpa dos meus dedos e, sempre que alguém o permite, eles afloram suavemente, toda essa fantástica cobertura do corpo, acordando e fazendo vibrar esses minúsculos pontos que ao cérebro transmitem sensações inversamente proporcionais à leveza do toque.
O toque é sem duvida um veiculo de grande afecto e tolo me parece quem toma por iguais os conceitos de acariciar e apalpar.
Mas pronto, como não regulo bem, poderá ser não tenha razão.
Com razão ou sem ela, da flor faço questão, pois nisto existe amor.

sábado, 10 de julho de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

MÃES

Tenho o hábito de dizer e acreditar que o homem é descartável, enquanto homem, entendendo ser o mundo das mulheres, e desse dito tenho colhido uma diversidade de opiniões, a permitirem interessante leitura do pensamento de quem as emite e da sua postura como ser humano plantado nesta bolinha azul.
Sabendo, como sei, que quando aponto tenho pelo menos três dedos a apontar para mim, honestamente confesso,  eu próprio me sinto facilmente descartável.
Das reacções colhi uma, escrita por mulher que jamais vi, mas a quem atribuo sensibilidade e expressou a sua na medida em que entende que o mundo deveria ser das mães. Obrigado Teresa.
E aí tocou-me pela verdade do sentimento e porque olhando aqui dentro, fui bafejado por ter usufruído do carinho e da ternura de duas mães.
Uma que me trouxe à luz e tanto se sacrificou para me criar e aperfeiçoar as ferramentas do meu então débil corpo e espírito, de forma a que pudesse encarar a longa caminhada com essa panóplia de valores éticos que o seu desvelo e carinho me deixou ao partir na sua longa viagem.
A outra que me surgiu pelo caminho e,  além de mãe, foi mulher, amante, amiga e irmã e teve a coragem de me aturar umas dezenas de anos, numa época em que eu buscava algo na linha do horizonte e para lá corria, sabendo hoje que, para além daquela linha, existia apenas outro horizonte e outro, e outro ainda... e a plenitude do vazio, não havendo necessidade de tanto ter corrido naquela busca sem êxito, pois a imortalidade estava garantida com aquilo que já tinha recebido.
Depois deixou-me, chamada à longa viagem, a cumprir o que a natureza impõe.
Não esqueci porém a palavra e hoje chamo Mãe, com ternura,  àquela que me deixa partilhar dos seus tesouros, duas alminhas que, um dia, por certo, serão também chamadas de Mãe, garantes da minha imortalidade e a colher o meu sorriso lá da estrela para onde irei quando finalmente me concederem o descanso do descarte.
Para tantos amores uma imensidão de flores

terça-feira, 22 de junho de 2010

O FEIJÃO


Estar enamorado após um campeonato de vida esgotante como o meu, é algo de estranho, inquietante, talvez mesmo irreverente ou herético, por anti natura.
Porventura estas coisas parecem suceder por artes que ultrapassam qualquer mente, a confirmar o dito de que não se acredita em bruxas mas elas existem.
E o problema em questão, neste meu caso de mente racional, é tentar espartilhar amizade e amor, observando suas raízes, causas e efeitos.
Porque sim, não me enamoro dos amigos, a quem toco, abraço e beijo e deles necessito da indispensável reciproca.
Todavia o amor é por certo coisa mais intima, a pretensão louca e também irreverente de desejar unificar dois seres, fundi-los em entrega universal  e ainda fantasia mental, imaginando ser o outro aquilo desejaríamos fosse, capaz de ser capaz de trocar confidências e aberturas de alma, nem ao diabo consentidas.
E porventura a fantasia persiste, mesmo sem troca ou retorno que, a existir, complica, exacerba-se e as travessuras agudizam-se, surgindo perversos mirones que minam a relação, tais como a duvida, ciume, exclusividade, dependência, obsessão, enfim um longo séquito de malvados destruidores do afecto e da ternura.
Mas, feitas as devidas cedências, poderá suceder que esse amor então biunívoco se funda e crie uma única peça sólida e duradoura, situação quiçá rara e, não crendo nela, tenho de acreditar que existe, como no caso das bruxas.
Por mim, vou amando o amor, fantasiado, talvez por não partilhado, chegando à conclusão que o facto de não ser retribuído é a garantia de final feliz, uma vez que ao outro não é assim permitido desmentir ou desnudar a elaborada fantasia.
Ah, porquê o feijão ?
É o amuleto de dois dias em que colhi laivos de felicidade na companhia de alguém que amei (por engano) na plenitude e ingenuidade da minha fantasia.
É branco e sempre que o toco, revejo em paz esses momentos e retomo, por instantes, essas gotas de felicidade antes vividas.
Não deixem, sempre que possam, de guardar o vosso feijão.
Então isto não merece flor ?
Claro, claro, é um texto louco, mas de amor.
Ai fica.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

DORMIR

De vez em vez deparo com perguntas indiscretas, que, semelhando singeleza, obrigam a reflectir sobre o nosso complicado e fastidioso quotidiano.
À questão sobre qual a situação em que me sentia mais vulnerável, pensei um pouco e respondi, naquele meu jeito de malícia e aparente fuga à resposta: 
Quando me obrigam a jogar bridge à séria e a minha linha já completou uma partida.
Todavia, superando a brincadeira, completei: quando, enquanto alma, o meu envoltório adormece profundamente, e o espírito vai vagueando por aí nas asas do sonho.
Por isso sim, prefiro dormir sozinho ou com alguém de suprema confiança, intimidade e afinidade (coisa rara neste campeonato), pois não posso permitir danos no envoltório quando regresso do devaneio astral.
Se me e permitido, direi haver outro momento de grande entrega, porventura de total abandono, provocado pelo alienante orgasmo, brincadeira da natureza.
Contudo essa entrega e abandono, neste meu caso, baseia-se essencialmente no abandono simultâneo do outro ser, naquela cena do dar e receber, na fusão da troca.
Não existe aí perda total de consciência por nesses momentos não me permitir abandonar o corpo, prescindindo dos devaneios que a dormir me concedo.
Fico presente e empresto alguns laivos de sentido ao acto, controlando se é praticado com alguém também de suprema confiança, essa confiança e amor que nos facilita uma entrega total, sem grilhetas ou rituais.
 Bom ... Chega! Vou dormir, sozinho como convém e, daqui a pouco, penso andar aí pela galáxia, como louco, talvez visitando a minha estrela de que já vou sentindo saudade..
Claro que o texto é do coração e de amores.
Porventura, houvesse espaço, colocaria aqui um montão de flores.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A TRAVESSIA


Para trás ficou o penoso percurso.
Montanhas, desertos e mares, suas tempestades e bonanças  e  os amargos sabores da conquista e da derrota.
Alguns, sábios, débeis ou prudentes, pelo caminho se quedaram e eu, por castigo ou prémio, cumpri uma jornada extensa e eis-me aqui, neste planalto de tantas almas, à beira do grande fosso, aguardando chamada à prova final.
O imenso areal, plano, árido e gélido, o impedioso e pesado silencio que uma brisa ligeira quebra no marulhar das águas negras e sangrentas, ocaso simulado no pôr do sol da vida.
Para além do fosso o horizonte difuso a esconder o desconhecido, quiçá disfarçando o nada.
Balanceada, aproxima-se a barca e, como figura de proa, altaneira, negra e sinistra a ceifeira.
Seguir-se-á atracagem, chamada e o desejo de constar da listagem e, quem sabe, posto o pé na barca, a esperança que se esvaiam as boas e más memórias, conquistando finalmente a liberdade..
Terei de embarcar, se não por mérito no menos por ter de ser, recebendo então carta de alforria que permitirá não retornar, ao invés do que muitos acreditam e anseiam.




Não sendo de amor é todavia de cansaço.
Ou talvez de coração e também merece a flor.   Porque não ?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

MEIO HOMEM/MEIO CÃO

Nesta simbiose e para ser justo, confesso tentei e sem êxito a metade cão absorvesse algo da do homem e a relutância demonstrada levou-me a crer que grande parte da conduta humana é facilmente descartável sem perda aparente do sentido da vida.

Sem que essa atitude do cão me fosse hostil, esforcei-me na adaptação, até porque aprecio a sua forma de levar a vida pela vida, no aqui e agora, borrifando-se no amanhã, que certamente nem pela cabeça lhe passa, e no implícito futuro que o humano não dispensa nas suas lucubrações.
Tem ele assim a grande vantagem de elidir problemas de angustia de fantasias projectadas não realizadas e na sua maioria não realizáveis.
Consegue também essa coisa mágica de não deixar atulhar o baú das memórias, retendo apenas algumas ou até substituindo-as por reflexos pavlovianos de preferência virados apenas à sua sobrevivência e subsistência, contrariamente ao homem que sedimenta e acumula as suas memórias também na maioria, por excesso ou carência, geradoras das depressões tão em moda, com seu cortejo de amargura, culpa e desespero, conhecidos corrosivos da tal de felicidade que todos buscam e poucos encontram.
Diz o povo que burro velho não aprende e, se o povo tem razão, bem feito estou, pois tarde iniciei esta aprendizagem e terei de acrescentar não ser pêra doce, em face dos seculares maus hábitos de que nos temos vindo a apaparicar.
Ainda pouco faladro e confesso isso não tem sido empecilho na minha aprendizagem, retendo bem pela observação e aqui vou confessar também algumas dificuldades ou fáceis adaptabilidades:


DESAPEGO: Usa por empréstimo, utiliza e larga, pois se, por acaso, o amanhã existir, tudo lá estará e, quem sabe, porventura surgirão outros empréstimos mais aliciantes.
Fórmula simples de eliminar a amargura da posse e sua fastidiosa conservação.
AFECTOS: Fácil a minha adaptação pois já antes ia pelo exagero.
Ternura, carência de afagos, pieguice, avidez ao toque, brincadeiras e outras mariquices, lembrando as crianças, tempo virtuoso do percurso humano.
Os meus pares, adultos circunspectos, olham-me com alguma critica e complacência, o que pouco me incomoda pois o tempo de engolir sapos já lá vai.
ALIMENTOS: Não sei bem como superar esta, mas creio que no final algumas faltas ou cedências terão de ser desculpadas. Não gosto decididamente de comer e ele, além da imposta ração, ou até pela imposição, devora, quiçá em provocação, tudo que lhe convém ao cheiro.
CHEIRO: Ah, cheira e recheira. É fenomenal. Aqui muito desejo adaptar-me porventura por ser um dos sentidos do meu agrado, tanto como o do toque.
Tenho feito algumas tentativas, quando a confiança dos meus pares mo permite.
Todavia felizes não foram e já levei um ou outro tabefe ao ser atribuído ao acto outra intenção, causa e efeito do mau feitio humano.
SEXO: Por aqui estou mal.
Certamente reprovaria se dependesse de exame.
Diria que para ele qualquer cadela lhe serve, se pudesse era actividade quase constante, e, para mim, é agradável memória que, por vezes e com razoável êxito, trago à prática desde que não haja demasiada exigência e sempre, obrigatoriamente, envolta num poderoso ramalhete de indispensáveis e complementares afectos.
MARCAR TERRITÓRIO: Actividade tão usual nele. Faladrou-me ser o seu modo de garantir que não conspurcam locais onde ele já teve alguma felicidade.
Aceito. Todavia continuo a usar o asseio e a intimidade da casa de banho, local onde a parcela de felicidade se limita ao alívio natural do esfíncter e de forma alguma preenche memória futura.
DESCANSO: Bom ! Deitarmo-nos em descontracção muscular, sobre qualquer zona, de preferência relvada e esvaziar o cérebro. Bom… nem tenho palavras.
Nem os meus pares sabem o que perdem quando deambulam nas grandes urbes apressadamente, para cá e para lá, como seres estonteados que não conhecem o rumo e simultaneamente carregam as suas baterias dos tóxicos envolventes.


E assim, esperançado que o cão perdoe a minha inépcia e me dê algum ânimo, lá vou persistindo, aluno satisfeito e assíduo.
O meu esforço é verdadeiro e até talvez consiga merecer ser cão por inteiro
Para já, estou satisfeito e desde que me afaguem com carinho, é garantido, não mordo.
Reparei agora que, contra meu hábito, espalhei-me aqui pelo teclado (outra coisa que o cão tem a sorte de não usar) e já vou nas 799 palavras, o mais extenso dos meus textos (ressalvem o lapso se me enganei, mas não conto outra vez).
Nem já paciência tenho para fazer revisão, pelo que isso sim, perdoem lá qualquer coisinha.
Ia pedir desculpa aos eventuais leitores. Lembrei todavia que conversa de louco a poucos interessa e os poucos, muito poucos, interessados, por esta altura já estarão a dormir.
Mesmo que sim, desejo boa noite e espero tenham tomado a medicação.
Já esquecia: como amo aquele cão, sem duvida isto é de amor, tem de levar flor

quinta-feira, 27 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

Fugas

Quando se pretende fugir, por regra estão selados os caminhos de retirada.
Desesperadamente continuo a tentativa de fuga, porventura  para a frente.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Viagens


Sou, desde há muito, perseguido por um certo sonho, estranho na sua recorrência.
Talvez me traga certo acréscimo de amargura e ansiedade, decerto por mal, para quem como eu preza e cultiva a disciplina da pontualidade, .
É sempre o embarque para uma viagem, não sei qual o destino, ou talvez saiba, em que, por isto ou aquilo, de somenos e não importa, jamais chego a tempo e o barco, comboio ou avião, já fechou a porta e lá se vai sem mim, suavemente deixando o cais de embarque, de forma provocatória, gorando a vã tentativa e o esforço corrido.
Creio ser travessura da perversa mente, contra a qual não actua armadura, indo contente ao baú do meu passado rebuscar entre as muitas viagens dos meus 20 aos 50 anos e que hoje me pergunto se teriam destino marcado.
Seja como for, o troco deste sonho é o seu final feliz.
Constatar, ao acordar, a pouca relevância do meu atraso e continuar a correr o prazo.
Fico tranquilo! Voltando ao outro lado não penso naquilo e a mente matreira, a sorrir, mais meia hora me deixa dormir, compensando a noite inteira, sem o mau olhado do antes sonhado.


Pode ser falta de amor, mas porventura merece flor.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dizeres/entenderes

Tem os humanos o hábito de usar frases e rituais, na mor das vezes cujos entenderes são diversos dos literais dizeres.
Estou a recordar a história do encontro de amigos (um cego, outro paralítico):
Diz o cego: Então ? Como andas ?
Olha, é como vês, responde o outro.
Porventura é suposto conter humor do mais negro, penso eu, mas a perversa da malícia faz sorrir o ateu e dá calor à conversa, tudo entendido sem agravo ou ofensa, por conter outro sentido.
E também o olá, bom dia, não vale um caracol se o dia não for de sol.
Diz-se e ninguém ouve, sendo uma espécie de mania ou etiqueta da treta, para algo se dizer e mal não se parecer.
Mas hoje não quero ir por aqui, pois se me distraio derrapo e acabo feito trapo, sem saber o que escrever que de resto é mais do mesmo.
Quando leio que alguém tem bom coração, tenho por força de saber, do autor a profissão.
Se da saúde for profissional, fica coisa directa e bem banal: é coração de bom músculo a cumprir sua missão, mantendo a circular o liquido vital.
Se psicólogo, padre ou bom cristão, levo a coisa pro amor, compaixão ou piedade, temas que são do espírito e da personalidade e terão de ver com a mente ao invés do coração
Enfim, não quero gerar confusão por tão pouco, embora sempre tenha a desculpa do louco.
Por favor, tenham bom coração, levem isto pro humor.
Assim sendo. é amor e, como é de preceito, merece flor.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Outros afectos

Questionei certa vez um massagista acerca do seu êxito profissional.
Não podia estar melhor pois toda a gente gosta de ser coçada, foi a resposta pronta e insólita.
Acreditei no homem e na extensão do dito a outras espécies, pois até o cão, aquele amigo que com frequência visito, meu companheiro de descanso ali em baixo, não despreza e até pede esses afagos coçarentos.
Pacifica-se, aquieta-se, abandona-se e fecha os olhos deliciado.
Ora como isto dos afectos, pelo meu ponto de vista, carece de troca e não imagino aquela patorra unhenta na minha pele sensível, pergunto-me onde estará meu quinhão e concluo que o gozo provem e é proporcional à aceitação e gozo dele, vindo a troca de forma diversa.
Não é fácil a conversa.
Ainda não ladro em perfeição e não tem ele estudos linguísticos, dada a tenra idade, pelo que nos limitamos, ressalvadas pequenas e honrosas tentativas, à comunicação do silêncio.
Aí temos o precioso auxilio dos olhos, toque e atitudes, artífices eficazes da repousante e compensatória conversa silenciosa, coisa que não se obtém nesta web onde se perdem virtudes na sua virtualidade e se promovem afectos sem virtudes.













Se isto é de amor, eis a flor !