sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O oculto



Desenrolando a foto podemos garantir, quase sem possibilidade de erro, a expansão da beleza.
Uma pequena faísca de duvida poderá subsistir, enraizada em hipotética manobra de composição.
Nas humanas gentes, não é tão fácil assim.
Todos tem a sua face oculta.
No primeiro encontro com alguém somos agradados ou não pelo seu aspecto e postura, quiçá artificial.
É a visão nossa primeira investigadora, com testemunho endossado aos restantes sentidos, todos em ligação directa com o comando central das operações, a mente, supostamente dirigida pela razão, às vezes mal, quando há razões que a própria razão desconhece.
Em cada ser, semelhantes serão estas "armas", diferindo por ventura no uso, causa e efeito da sua aprendizagem de percurso e personalidade.
É depois árdua a tarefa no desbravar da área enrolada, a esconder a arca dos sentimentos, esse tesouro oculto eventualmente recheado de pérolas.
E ainda aqui terá de haver o discernimento e bom senso na escolha das verdadeiras, pois as falsas tem por vezes o condão de bem iludir a razão.
Desta breve luta, em tréguas, pode acontecer nascer o amor... todo o tipo de amor e aí haverá de colher o fruto, sem limites, ignorando o fantasma do tempo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

De cabeça perdida

Esta, também história de amor e também a dormir no outro canto, onde tinha o nº 31, desde 14-08-2006, aqui a trago para o panteão do amor.


O Eduardo nunca fora de grandes ou continuados amores. Cerebral, supervisionava. Dizia ele, pisava levezinho não fosse atolar-se em areias movediças. Dizia-lhe eu, para não brincar com o amor, sobretudo o dos outros.
Mas ele petiscava amor, alheio ao perigo da intoxicação.
Era no fundo um poeta ! Amava o amor !
Idealista, na busca do improvável, diria do impossível.
Disfarçava as suas ilusões em banhos de lógica e cinismo. Sofria...
Amante era do belo e passava largas horas em contemplação.
Sorte ou azar o seu, certo dia, refastelado numa esplanada, admirava o sol, nu e alaranjado, no horizonte a mergulhar em lençol azul cristal. Alguns flocos de nuvem, tal espuma, emprestavam vida ao mergulho.
Minutos ou eternidades depois, entre essa maravilha e os seus olhos, estacou uma linda mulher, sorrindo.
Conheço o Eduardo. Sorriso retribuído, convite à mesa, uma bebida, curiosidade tremenda em saber, condição essencial, se além da beleza aparente, ela seria também uma mulher linda.
E, de blá-blá em blá-blá, o Eduardo estarrecia pelo imprevisto.
Pensamentos, ideais, afinidades preenchidas. E sobretudo perfeita beleza interior.
A Diana, de seu nome, mulher com capacidades e qualidades a permitir-lhe, finalmente, pisar qualquer tipo de areia, afoito e sem receios.
Bebidas esgotadas, disse-lhe um “não fuja” e foi ao bar já ansiando ao retorno.
Passados alguns minutos de impaciência voltou à mesa e à desilusão.
O sol não deixara rasto, a água era agora azul negro.
A Diana desaparecera !
Perdeu a cabeça...E desde então, de cabeça perdida e sem ver, ali vai com frequência, no mínimo para tentar separar a realidade do sonho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Eficácia da candura

Dos cinco aos setenta



- Achas que posso arranjar namorada ?
- Sabes, não estou preparada para outra avó, mas podes
- Pois, mas não é fácil...
- Ah, é verdade, tu não andas na escolinha . Olha, se vires alguém na rua de que gostes, pergunta-lhe se quer namorar .................longa pausa ...................e se ela disser que tem namorado, procura logo outra pois não tens muito tempo.

As riscas

Quando as rugas ainda são riscas:
- Que idade tens ?
- Cinco, porquê ?
- Ah, mas eu sou mais novo do que tu !!!
- Ai não és não !
- Não sou ? Porquê ?
- Porque tens riscas na cara e a minha é lisinha.
Mais tarde as riscas passam a rugas... e quebra-se o encanto...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

As sandálias


Este texto dormia no meu outro canto desde 6-10-06 e porque duma história de amor se trata, arranjei-lhe cama neste outro canto, ao amor destinado.

Continuaria enrolado no sonho, não fora aquela batida persistente.
Abri um olho e accionei os outros sentidos.
Levei tempo a rever-me.
Fazia fresco, era manhã.
Enrolado continuava porém no cobertor, de que perdera o hábito naqueles últimos meses de verão.
O ruído continuava como cão a pedir guarida. Teve de ser.
Separei-me da manta e, em pelota, assomei à janela.
Tudo estava explicado.
O inverno chegara às portas da cidade e, para reconhecimento, mandara avançar os vanguardistas. Ali estava o Outono e os inseparáveis ajudantes: o chuvisco e o vento ligeiro.
As folhas secas, apanhadas de surpresa, esvoaçavam aflitas, sem destino, sacudidas do torpor morno dos últimos dias de Estio.
Aqueles arautos avisavam os humanos da cessação quase imediata da mordomia da estação quente.
Tempo de trocar de fardamentos, o que me levou de imediato à relação próxima dos meus pés e das sandálias. Que seria delas ? Já me compadecia a interrupção daqueles amores.
Não riam. Recorda-me bem aquele dia de inicio de verão quando estaquei junto à pequena montra da sapataria na intenção de encontrar algo mais leve do que as botas de inverno.
E elas, as sandálias, lá estavam, num cantinho, pela humildade ressaltando entre outras, sem arrebiques, simples, pele de mel, macias, a prometer caricias de que os meus pés andavam ávidos e a lançar-lhes olhares gulosos a que eles não foram insensíveis.
Antevi problemas, tentei arredar-me na fuga ao compromisso.
Todavia eles, por si, encaminharam-me à entrada da pequena loja.
Daí a enlaçarem-se, foi um tiro.
Não sei dizer de quem foi a iniciativa, fundiram-se de tal forma, dois em um, só possível num amor de primeira vista.
Cativaram-se e aceito. Elas tinham tudo o que uns pés cansados do percurso podiam desejar, simultaneamente macias e firmes, delicadas mas justas, aceitando as diferenças, completando-se.
Nem sequer discuti na minha plena incapacidade de os separar.
Paguei, deixei as velhas botas e eles vieram felizes na experiência daquele amplexo, estudando-se e entregando-se.
A partir daí. Que posso eu dizer ? Foi a loucura ! Não se desligaram mais, excepção a banhos e dormir que aí opus felina resistência.
Porém de noite os pés viviam agitados pela breve separação e elas, junto à cama, ansiavam pelo raiar do dia e por aquele que era o meu hábito de ir ver o sol a vestir-se.
Novas andanças, novas descobertas, novos enleios.
Como vou eu agora convence-los que tudo acabou ?
Enfim, terá de ser, já venho.
Estou de volta. E venho perplexo... A situação foi aceite, compreenderam que nada é eterno, que foram privilegiados porque tiveram e isso nunca estará perdido e acrescentaram um pedido. Gostariam num dia ou outro de sol, sempre que possível, unirem-se relembrando aquele verão jamais esquecido.
Doçura e amor. Lindo de doer.
E SE OS HOMENS CONSEGUISSEM SER ASSIM ?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Amor e desejo

Amor e desejo são coisas diferentes.
Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama
Miguel Cervantes

De tão assertivo arreda a discussão.
Até porque o desejo por vezes implicita posse e isso não cabe no amor.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Verdadeiro amor


E há quem não acredite em fantasmas

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Queixas


Pese embora o alerta implícito no texto, algumas queixas foram recebidas por utilizadores do doce de amor, designadamente dos que tiveram por bem a pitada de sexo usar.
Dos sete ingredientes principais não há noticia de sequelas, mesmo quando usados de forma inadequada.
Todavia, em casos de abuso de consumo, poderão resultar algumas atitudes, como abraçar árvores , falar com animais, ou dizer olá a desconhecidos, coisas não de estranhar em seres demasiado sensíveis, indicando que do doce constam todos os ingredientes, na medida justa e bem misturados.
O enviesamento acontece quando o utilizador entende usar a pitada de sexo sem acautelar os efeitos colaterais ou em dose excessiva.
A principal sugestão é preparar doce para dois, de preferência com alguma afinidade de paladares, e a quantidade tem de ser tal que permita, na toma , atingir o êxtase no justo ponto.
Pode acontecer porventura, por preparação inadequada, a dose não estar no ponto para ambos
Por outro lado, quando o resultado é demasiado satisfatório, pode provocar, em alguns casos, a influencia maligna da paixão, tida por efémera mas porventura inibidora da razão, especialmente quando atinge os pontos sensíveis do ciume e mania possessiva.
Por tal é aconselhável o máximo cuidado na opção das quantidades e sobretudo na escolha da pessoa para quem se prepara o doce.
Ah esquecia.
A vela, uma ou mais, e outros adereços ambientais, não sendo indispensáveis, à evidência favorecem o valor do produto.
Bom apetite !