quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Brumas

Tem os afectos familiares na sua génese a essencial e dependente relação de proximidade entre parentes.
Logo esse afecto não pode advir ou brotar apenas do legado de adn para aí se esgotar, resultando antes de presença, dedicação, desvelo, cedência, incondicional entrega e concretizando-se na ternura do toque.
Amor sem medida.
Espanta-me por tal tantos interessados haja nas suas remotas ascendências, endemia que por aí grassa e da qual já fui tomado, pese embora o dito espanto.
Parece grave, convindo porém não ser o meu caso. pois já deixei atrás bem claro que a parcela de adn herdada (para o bem e para o mal) desses antepassados, com quem pessoal e obviamente não privei nem conheci, vale o que vale, restando esta mórbida curiosidade de saber, nomes e datas, nascimentos, casamentos, partidas, peças dum jogo de equivalências e comparações que a hereditariedade sempre permite e de que nós humanos tanto carecemos.
Aquelas informações são alimento da imaginação na criação de cenários doutras vivências, noutras épocas, de seres para quem, apesar do legado pela natureza imposto e por eles nem pressuposto, pouca importância teria tão remoto e aleatório descendente, seja este frágil eu que um dia também entrarei nessas brumas de futuro/passado.
Assim posso dizer que o gozo deste conhecimento quase se esgota nos imaginados cenários da vida de então quão diferente da actual na medida em que o homem na sua ansiedade evolutiva, acelera, esforça e prejudica o processo.
Dizia-me um especialista em insectos que adorava a sua profissão pela perseverança daqueles em milhões de anos, ressalvados alguns ajustes ao meio, na quase imutabilidade da cena padrão das suas vidas e responsabilidade no equilíbrio do sistema.
Com o homem e por lástima é necessariamente diferente. Foi dotado da inolvidável dádiva do raciocínio, pensando, sua aparente ruína, por nada lhe parecer servir na manutenção do equilíbrio natural, exaurindo-se nas mordomias dos falaciosos confortos.
Olho o cenário dos dias de hoje, em que mal grado meu me suponho inserido, talvez por lapso sempre admissível, e munido dessa poderosa arma da imaginação, aí vou, em planado voo, a trezentos anos atrás e observo o movimento dos seres, talvez não tantos, carregando coisas sem peso e demasiado pesadas, seus eternos problemas na via do nascimento, vida e morte, afectos, sentimentos dos bons e dos maus e contudo livres da maioria dos supérfluos que a poeira dos tempos foi acrescentando, sem grande proveito, às seguintes gerações.

Será que estou com uma pontinha de inveja ?
Se é por bem, assim seja.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pomba branca

Acrilico s/tela 30X30

Certo dia encostei meu ouvido ao teu peito e senti o tic-tac do pequeno grande coração. Perguntaste então, lá do alto da tua candura, se todos os corações batiam ao mesmo tempo.

Pese embora não batam, a voejar ficou no pensamento a ternura desse teu sentimento.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Crenças

Acrílico sobre tela (pormenor)

Falando de Deus veio o outro afirmar coisa que muitos sentiam e já os ateus o diziam.
Ser invenção dos homens que a ela se escravizaram já não colhe novidade, pois sucede a cada passo.
Do montão de seus inventos resta ao homem o embaraço e fardos de ansiedade; pelo uso imoderado e falta de lucidez, logo fica viciado, sem dar conta do que fez.
E isto fui eu lembrando ao fazer a minha sopa, sem ter com quem falar e comigo conversando, aliviado da roupa e à beira da panela, à balda nela deitando a certeza, o não sei quê, a duvida e o talvez, ou então, pelo contrário, um pouco de tudo que restava no armário.
Sorte a minha, tudo à varinha mexido, decerto vai resultar coisa boa ao paladar, mas, se acaso assim não for e se sofrível ficar, lamento não vou soltar, por não ser fã de alimento.
Na espera do borbulhar e levantar da fervura, a ideia inicial tomou conta d'aventura e, com modéstia o vou dizendo, resultou, sem mais aquela, ter quase a certeza de ser a minha panela semelhante à natureza, guardadas as proporções pois não quero confusões.
Energia lá não falta, na mistura aleatória, turbulência quanta baste e a terra giratória há milhões que faz assim, coisa boa e da ruim.
Assim tudo equilibrado, logo surgiu o traste, de barro mal amassado, embora d'homem chamado e ai foi o desastre.
Começou a destruir enquanto de amor falava e do mal se lamentava.
Foi tempero exagerado a estragar o cozinhado que não para de ferver, ficando assim demonstrada a ausência de poder, pois a haver um criador, era o supremo fulano e tanta displicência não permite invoque engano.
Pronto. Se calhar o tal tem razão, ou será outra ilusão ?
Se sou crente ? Claro ! Brota a árvore da semente.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Interrogação

Carvão sobre cartolina A4 (2009)






ASSIM NÃO TEM SENTIDO !
DE OLHOS CERRADOS E SEM FALAR
COMO POSSO VER TUA ALMA ?
FICO SEM CALMA, PERDIDO...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Auto-retrato

Acrílico sobre tela 30x40 (2009)

Alguém disse, falando de amor, na fronteira da ironia e do cinismo, que adorava deitar-se acompanhado e acordar sozinho.

Suponho seja o percurso usual do humano adulto e, com algum regozijo, noto ter alcançado o estagio seguinte desse culto.

Prefiro deitar-me só e só acordar, se por acaso acordar.

E tudo isto pela causa do que este meu olho vem observando e não me agrada de todo, porventura daí advindo razão de preservar o outro olho, numa vã tentativa de lhe esconder a paradoxal dualidade (crueza-beleza) que a natureza nos oferece nas suas propostas de vida.

Se não comunicarem, mantenho, pelo menos um, na virtude duma ingénua candura de juventude.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nuvem

Acrílico sobre tela 30x40 (2009)






NUVEM PERDIDA


NA BUSCA DO SENTIDO DA VIDA







quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Paradoxo

Carvão e aguarela s/ papel (30x40)













Porventura sem coração



mas de flor na mão

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Vazio

Mania humana, suponho, a quantificação.
Na satisfação desse devaneio, inventam-se padrões de subordinação, complicados, por vezes, no anseio que valham aqui e noutros mundos.
Para o tempo, seja lá ele o que seja, lembrámo-nos do ilusório calendário (anos meses, semanas, dias) e, não contentes, o seu principal acessório, o relógio (então para horas, minutos, segundos).
Enfim, no olvidio da nossa poeirenta e finita existência, vamos mantendo a coisa afinadinha, no fundado temor de deixar escapar alguns preciosos segundos no turbilhão dos milhões de anos da presença humanoide nesta bolinha azul.
Não ficando por aí, os padrões surgiram também para medir, pesar e tudo o mais.
Tem de bater certinho para ninguém ser enganado.
Parece resultar isto do próprio convívio humano e nem sempre é mera cusquice, antes mentalidade implantada (quanto anos tens, quanto ganhas, quanto medes, quanto pesas e por aí).
No amor e noutros similares afectos esbarramos, pois o padrão ainda não foi consensual e não passamos de meras tentativas susceptíveis do fácil contraditório.
És o amor da minha vida, amo-te tanto e outros, não passam de padrões individuais, arrastando consigo a enorme dificuldade comparativa do libido e das almas de cada ser.
Quebra-se assim o hábito pelos sentimentos e lá se vai o monge, dando o insólito lugar à perplexidade.
Porventura será que tudo isto terá real importância quando a ciência nos demonstra que afinal a aparente matéria e tudo o que nos rodeia não passa do vazio ?
E até os nossos próprios pensamentos ocorrem em zonas vazias do nosso cérebro ?

Afinal, olho a tela e desespero, por parecer a semente verdadeira e inteira e trazer no ventre a flor e o fruto, dela brotando a vida e o amor e também a dor e o luto e, no evoluir desta emoção restar apenas ilusão.
Acrílico sobre tela-2009 (30x40)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Tentáculos

Obséquio de gifmania
Para quem disser que não é história de amor, chamei a depor, o beija flor.
A plenitude do amor será o conjunto duma plêiade de sentimentos, tentáculos, como se de um polvo se tratasse.
O maior e mais possante é, sem duvida, a amizade, talvez até por ter de ser vivida a dois ou mais.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Casamentos

Obséquio de gifmania
Encontrei um destes dias um sujeito que me pregou uma seca dissertando sobre casamentos.

Na sua rude forma de encarar o tipo de amor que aí se enquadra declarou que, a curto prazo, e dissipadas as névoas do romantismo, a união se assemelha a violação consentida.

Foi porém mais sensato e menos cínico ao afirmar ser possível existirem ligações duradouras, nesse vinculo contractual, sendo apenas necessária muita paciência e casas de banho separadas.

Estou sempre a aprender.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Intenções

Na busca da minha própria serenidade, assentei meus conceitos de amizade e amor e as suas respectivas gradações.
Continuo a distingui-los na essência; amizade, exige troca, e amor, quando bate verdadeiro, é pura dádiva, não carecendo sequer da reciproca.
São dois sentimentos extremamente semelhantes e motores de alguma confusão, ambos portadores da capacidade de se transformarem um no outro pelo faiscar de um qualquer impulso especial.
Se calhar já a muitos sucedeu a amizade profunda abrir a porta ao amor e também o profundo amor esbater-se em sedimento de amizade.
Depois existem algumas grandes emoções/sentimentos agregados.
Destaque à paixão, essa doença do amor, vírus de curta duração e se metaboliza na maior parte dos casos em ódio ou, mais curioso ainda, em absoluta indiferença.
O ciume também faz das suas, tanto num caso como noutro e acaba por mostrar a insegurança de quem o sofre, dissipando, embora lentamente, quer a amizade quer o amor.
Para complicar este fado existem seres a refutar a amizade, pelo receio dela venha a emanar uma parcela de amor, ou, mais grave ainda, pela parca dádiva disponível nas suas almas.
Seres de almas cativas, pobres e sobretudo inseguros.
Passam sequiosos e de copo na mão ao lado da fonte da vida, hesitando em beber e esquecendo que daquela água jamais poderão sorver, se a deixarem correr.
Não correm riscos, não podem colher.
Passam então a outra etapa com a sombra da culpa a acompanhar o restante percurso até ao grande portal de saída.
E sei do que escrevo porque já tentei estabelecer amizade sem êxito, reaprendendo o que já sabia: às melhores intenções correspondem, por vezes, as maiores decepções.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Monogamia



Quando os meus cantos me enfadam ou repudiam, fujo, simulando abandono e procuro conforto e consolo isolado do bulício citadino, especialmente do irritante som das tairocas da vizinha de cima.
Ali, entre canseira e repouso, trabalho a terra a meu modo, afago as plantas, observo a natureza.
Deleito-me na observação de enorme cedro e sua frondosa ramagem, acobertando piscos, pardais, melros, rolas e, pasmo, até andorinhas, estas que habitualmente preferem os beirados.
E todos aqueles seres nos seus gorjeios e vai e vem na tarefa de abastecer os lares de conforto e alimento, vivendo ali em parceria, fazem do cedro como que um bloco de apartamentos da grande cidade, talvez até mais urbano.
Algo me intriga. As rolas, habituadas às minhas visitas, observam-me, aproximam-se, perdendo a sua timidez e talvez curiosas de existirem humanos pacíficos.
O casal mantém-se unido por mais de um ano numa perfeita união monogâmica.
Colhi alguma informação e fiquei sabendo que ambos cuidam do "lar e das crias", revezando-se.
São seres tímidos e bons companheiros.
Já tentei arrulhar com elas para conhecimento pessoal.
Sacodem a cabeça e não me respondem. Decerto não pronuncio bem.
E também aceito não se interessem pelo nosso idioma que de pouco lhes serviria.
Ou talvez pensem: olha, mais um louco !
Penaliza-me! Assim os homens não conseguem aprender.
Fico por aqui e não me digam que o texto não é de amor.


Ah, por faltar a flor ? Então aqui fica

sábado, 9 de maio de 2009

Aniversários

Mesmo não parecendo, a mensagem é para ti
a lembrar um dia da semana que amanhã se inicia

Tem o humano o hábito de comemorar uma vez ao ano
Paciência... Não vou contrariar !!!Parabéns, aí os tens
por essa tua passagem e feliz sejas na sequência da viagem.
Meu desejo é bem diferente e não serve a toda a gente
Comemora não ao ano, mês ou dia,
tão pouco à hora, minuto ou segundo
e sim cada vez que respires fundo
de sorriso aflorado, terno, com carinho
a beleza das flores a cobrir o teu caminho
e a sentires o amor de todos os teus amores.
Plena e serena será a jornada na certeza de seres amada.

Pena não ter ensejo de te dar o meu beijo

sábado, 2 de maio de 2009

Como era o amor



Desta vez não há flor, nem o sol posto, é simplesmente o meu rosto e a torção foi sem dor.
Quando eu era jovem, uma mulher bonita podia deixar-me assim.
Chamava-se a isto dar-me a volta à cabeça.
Hoje, infelizmente ainda me acontece, com muito menos frequência e mais exigência.
Com a idade a procura é mais selectiva.
Não basta uma mulher bonita, terá também de ser uma bonita mulher.
E depois, idade e loucura, garanto, mistura explosiva.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A virtude

AMAR significa amar o que é difícil de ser amado, de contrário não seria virtude alguma;
PERDOAR significa perdoar o imperdoável, de contrário não seria virtude alguma;
FÉ significa crer no inacreditável, de contrário não seria virtude alguma.
E ESPERAR significa esperar quando já não há esperança, de contrário não seria virtude alguma.
(Gilbert Keith Chesterton)

E na fantasia corre o sonho pelas estrelas, brincando com a vontade e tornando a realidade em heresia
Tanta virtude em plenitude numa só pessoa, não me soa, confesso.

Fico tristonho.
Sabendo meus olhos já não são o que eram, tive uma ideia, tomei da duvida o beneficio e (como o outro), tentei com candeia, procurei entre escolhos. Nada.
Para meu pranto, nem tal santa nem tal santo.
Perdida fé e esperança, sigo o conselho. Vou esperar e pelo inacreditável aguardar.
Nesta inquietude porventura colherei virtude.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Felicidade

Este de 02.11.06 vem para aqui. Se o amor empresta felicidade,
Sejamos felizes então, de flor no coração
Os meus momentos de felicidade tem sido lampejos.
Suponho por isso legitimo ansiar pela plenitude.
Numa dessas revistecas que tudo solucionam, era prometida a conquista da felicidade em dez passos, com o aval de não sei quantos cientistas e testemunho de outros tantos supostamente felizes e decerto também bem pagos.
Céptico por natureza, não deixo porém de estar aberto à mudança.
Esta atitude e a aparente simplicidade das dez tomas do milagroso milongo, umas diárias, outras semanais, embarcaram-me na experiência, entrando desde logo nas tomas diárias.
As duas primeiras seriam canja.
1) Cortar metade do tempo a visionar TV.
Tirei a ficha da tomada.
Dada a qualidade da programação, estava a usar para adormecer.
Cá me arranjarei e, se necessitar, tomo um soporífero.
2) Tratar duma planta
Isto adoro.
O problema é que trato de muitas e fico receoso do perigo da toma em excesso, mas esperançoso que daí mal não venha
3) Dizer olá a um desconhecido
Teria de sair. Sem hesitar, aperaltei-me e, todo janota contra o meu uso, desci as escadas.
Cruzei-me na porta com um tal desconhecido.
Franqueei a passagem e disse OLÁ.
A primeira decepção. O tipo, carranca afivelada, olhou de soslaio, passou.
Não correspondeu, nem agradeceu a gentileza.
Sem perca de tempo, saí e deparei com uma mulher ainda jovem.
OLÁ, disse eu já ansioso, quando se aproximou.
Não olhou, levantou a cabeça e prosseguiu, certamente convencida que eu pretendia um engate.
A adrenalina começou a borbulhar e fiquei especado.
Entretanto aproximava-se uma velhinha com ar seráfico.
Afivelei o meu sorriso às comissuras, sem receio de mostrar os dentes que alguns já não são meus e, na aproximação, gorgeei o meu melhor dos OLÁS.
Boa. Parou.
Fitou-me compadecida e disse:Tenha paciência. Não tenho trocado.
Não tomo mais nada. O amor pelos outros está esquecido.
Desisto de ser feliz por inteiro, contentar-me-ei com os lampejos.
Dependendo de terceiros, o grau de dificuldade sobe em flecha.
No entanto sem responsabilidade nem garantia de êxito, estou ao dispor para indicar os restantes sete passos.
Pode dar-se o caso sejam mais “felizes” do que eu.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amores perfeitos

Folheei meigamente o meu amigo, ainda convalescente da briga e vou entrar noutra alhada,
Desta vez ou tudo ou nada. Não quero intriga !
Ao conceito de amor coloca ele à cabeça "sentimento de afeição de um sexo pelo outro".
Seguido por "afeição profunda ditada pelas leis da natureza" e ainda "sentimento vivo, intenso, de gosto por", entre outros de somenos e mais tontos de certeza.
Dar primazia ao sexo, nem de longe nem de perto, é assunto complexo e não me parece certo.
Sem grandes discussões, fechei logo o livrinho e vou seguir um caminho que lhe tire as ilusões.
Amor, com atributo de perfeito, sempre vai precisar de três cantos partilhar: espírito/intelecto, tolerância/aceitação e outros afectos.
E, nesta cumplicidade, será o amor coisa de jeito, quase felicidade, perfeito !
Já estou a ouvir: a tua cela tem quatro cantos... e o outro ?
Pois, esse o canto da intimidade, onde, passado o teste anterior e disso for o caso, tem nexo falar de sexo, esse movimento em que dois seres poderão ser um só quando, a poderosa força do efémero orgasmo em simultâneo, implica entrega incondicional, e quem é, por um momento, deixa de ser.
O canto é terrivel, pois aí, ter segredos ? Impossivel !
Assim é o amor perfeitíssimo !!! Não existe ? Talvez....ai de mim.

domingo, 26 de abril de 2009

Amor na ajuda

Quando a flor não basta...
A ajuda a outro ser humano, não se esgota no acto de disciplina, mero cumprimento da intenção.
Outras e mais subtis exigências se nos deparam como possíveis garantes do bom êxito dessa intenção, permitindo que a mão que nos é estendida seja firmemente apertada ou, no menos, aflorada.
Não poderemos compreender e aceitar os problemas dos outros, sem fazer boa gestão dos nossos próprios, assim como não poderemos valorizar positivamente quem nos estende a mão se não aceitarmos a nossa própria forma de estar no seu âmbito de realizações, duvidas e fraquezas.
Sabemos que a capacidade de amar o que nos rodeia passa pelo amor de nós próprios e pela necessidade que o humano tem de ser amado e é mais que certo não podermos estar numa relação em que nos pedem segurança, paz, serenidade e alguma alegria, se formos inseguros, ansiosos, agressivos ou infelizes.
Auto conhecimento, auto estima, auto aceitação, capacidade de amar e maturidade psíquica, exigências que surgem desta forma como indispensáveis aliados da disciplina consciente.
É um passeio de braço dado da humildade, disponibilidade e tolerância, pedindo-se bastante para tarefa humilde e de êxito incerto.
A compensação virá em paz e crescimento interior.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O beijo ardente

obséquio de gifsanimados
Esta mania dos dragões deitarem fogo pela boca deixa-me perplexo. Será fantasia ?
Os beijos humanos na boca, ou nos lábios, como se queira, seriam um tormento, se porventura tivessemos este mau hábito.
Em situações já de si escaldantes, o que seria com esta labareda!!!
Já andarão por aí humanos com estes poderes ? Se calhar...
Eu não desisto mas, à cautela, vou comprar um extintor e não o largo.
Passa a andar comigo. Amor seguro.
Por tão pouco são capazes de me chamar louco. Não ligo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Birras (amizade e amor)


Não sou de permitir que birras ou amuos tendam a destruir qualquer ligação de amor ou amizade e porventura nem todos assim somos.
Posso ser de tempestades repentinas.
Todavia mesmo convencido que a razão me assiste, logo tento abrandar os ventos e chamar as bonanças, tentando ver as razões que ao outro são assistentes.
Aquela minha intima ligação ao dicionário, de tantos anos, continua encravada desde a briga sobre a estranha definição de loucura e não por mim, mais por ele.
Evitando ofender com a presença de modernos dicionários, procurei na estante companhia, juntando-o a outros da sua geração, de inglês, francês, espanhol, que literalmente desprezou, derrubando-os com a sua corpulência, na recusa flagrante de amizade ou amor.
Ponho mais apuro ao folhear suas páginas, tento o carinho que repudia, colando páginas, revirando-as e dificultando o acesso.
E foi aqui que meti o pé na argola.
Resolvido a tentar o máximo, percorri as livrarias, tentando encontrar companhia feminina para aquele meu amigo. Talvez o amor puro fosse a cura e me perdoasse.
Em cada loja, quando pedia uma dicionária de português, ou saía risota ou espantação e houve até um que delicadamente me mandou à merda. Não fui, claro, e entrei noutra loja onde, por sorte, encontrei pessoa simpática, ainda há uma meia dúzia, que me explicou em pormenor a dificuldade.
Não existem dicionárias. Grande bronca.
Estava explicada a perpetuidade da rezinga.
Devia ser insuportável viver sem o eterno feminino
Olhar a sua solidão fez-me doer e coisa que não gosto é de sofrer.
Eu que me pensava só e tenho a possibilidade de encontrar o complemento em género e talvez até em sensibilidades e gostos afins, sendo o único entrave a idade e a selectividade por ela arrastada.
Tristonho dicionário, tem razão, vive num sonho sem realização..
Pode a cruz do nosso fado ser carga demasiada. Haverá sempre mais pesada.
Do coração, hoje fica a flor em botão

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Amor nos casamentos





Lamento o atrevimento.
Mas foi assim numa aprendizagem em 2005, em barro corrente, cozido, tendo a peça 15 cm de altura.
Na ideia estava o Santo casamenteiro lá da minha cidade, quase aldeia.
O ar aluado e o cabelo demasiado encaracolado, emprestam-lhe um misto de candura, ternura e duvida, talvez até de espanto ou hesitação.
Assim como exclamasse que isto já não é o que era.
Nesta minha versão, e em face do meu próprio preconceito, parece um pouco desiludido do amor nos casamentos que, por tradição e em Junho, demasiado conservador vai acobertando.
Da cabeça do Menino nem ouso falar e ainda bem que só se vê de perfil.
Que ambos me perdoem a falta de perícia e aqui ajuramento não haver malícia.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Amor sonhado

Deixaste flor perdida
Nessa noite de luar,

Sem recear pesadelo, passei a sonhar contigo.
e afagava teu cabelo, dessa linda cor do trigo
Meus olhos já mergulhavam no profundo mar dos teus
E teus lábios suspiravam pra se colarem aos meus
No auge dessa atracção, o laço do teu abraço
asas deu ao coração pra voar noutro espaço
Os braços deram o nó, quando os lábios se uniram
Eramos dois e um só e nossas almas fugiram
E depois, sonho perdido, havias desaparecido
sem recado me deixar.

......................................Ainda havia luar

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Serenidade





A felicidade consiste em não seres feliz e que isso não te importe.

(Miguel D'Ors)


Meditando sobre isto, acho que o homem está prenhe de razão, pelo menos de razão semelhante à minha.
Integra aceitação e o bem estar da serenidade, humildade e amor.
Continuam porém a considerar-me louco, nem sei porquê, e também não me importo.
A flor ?
Ah, a flor tem de ser !!!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Laços... e nós

Texto (07-08-2007)
Obviamente de amor
Foto obséquio de Wikipédia


Sempre gostei de laços, de laçada simples ou seus companheiros, mais firmes, mais duradouros, os nós.
O laço é deveras abrangente, ele enlaça o presente, no requinte da fita colorida e aperta, ajusta ao pé, o sapato mais humilde.
Esta laçada no sapato, e segundo a qualidade do atacador, terá de ser dupla, para evitar o constante reajuste.
Da gravata não sei. Não uso e evito baptizados, casamentos, funerais e quejandos que obriguem ao ritual de apertar o pescoço.
Os nós são de famílias mais nobres e na realidade outra loiça, pese embora mais complicados no enlace.
Entre os humanos também se criam laços, são invisíveis e muito semelhantes aos nós pela necessidade de preliminares.

A laçada simples, descuidada, raro dá flor.
Tem de haver especial cuidado no aperto, nem muito, nem pouco, pois o problema principal está na quase impossibilidade de reajuste.
Há casos em que esse laço, ficando lasso, raro volta a enlaçar.
E com poucos, muito poucos, se consegue dar o verdadeiro nó, mais duradouro, por vezes eterno.

Formalismos


Melhor dito formalidade. É algo deprimente.
É frequente fazer-se por ter de ser.
Representa sobretudo pressão do grupo sobre a personalidade.
Facto que, nas épocas ritualistas ou de pseudo festejo individual, tem o seu auge e obsessivo se torna, iniciado muito antes do acto e com declínio passados dias.
Exemplo dos primeiros dias do mês corrente. Por tudo, por nada, a qualquer momento, muito badalado boa Páscoa se fez ouvir, não tendo o dito, na maioria dos casos, qualquer sentir e certamente também sem conhecimento do incluso significado.
Passada esta mera fase verbal, se o facto cria situações de ofertar, deliram comerciantes, vendedores de coisas, comida e ilusões
Essa segunda fase, mais delicada e angustiosa, chega a tornar-se dolorosa para quem dá e quem recebe.
Quem dá, atarefado e sem criatividade, evitando a perca de tempo e dinheiro, decide comprar o mono corriqueiro.
Quem recebe lá terá a sensibilidade e o afago para dizer "que lindo" e arrumar na prateleira até, de boomerang e da mesma maneira, provocar o estrago noutro.
Caberiam aqui palavras terminadas em "ia" que até mal me fariam e assim evito usar, não sendo elas fantasia, nem tão pouco alegria.
Mas é assim a rotina.
Todavia o que mais me desatina é desejarem Bom Natal, Boa Páscoa, Bom Carnaval e, afinal, todos os outros dias ? Terei de passar mal ?
Remoendo tudo isto, resolvi, em tempos idos, abandonar a formalidade, limitando-me, por cortesia, educação e urbanidade a retribuir os recebidos.
Tive sorte. Com o tempo a passar e na eminencia desses tempos loucos de regresso à minha estrela, votos tenho recebido poucos, muito poucos.
Resta um apontamento.
Quando vejo alguém que me toca, poucos, muito poucos, em festividade, ou outro qualquer dia, de sol, chuva ou vento, desejo-lhe, sem o expressar, venha a ter o que quiser, seja lá isso o que for, bem ou mal tem de escolher.
Isto como recheio e laço dum longo e silencioso abraço.
Que tal ? Coisa simples mental, com toque e calor, parece prova d'amor.
Do louvor não fico à espera, por minha loucura mansa a isso não dar valor.
Ah a flor, tinha de ser, é com gosto, mesmo a quem não a merecer.

domingo, 12 de abril de 2009

Do coração

A 07-03-2006, em despedida,
descrevi assim um amigo e um mentor,
estava por ali escondida
mas é também forma de amor

Ao Luís
No cair da folha.
Ajudou-me a sentir a solidão dos outros e assim situar a minha.


Em menino o coração era para mim algo que no meu peito fazia pum-pum, com mais ou menos violência, segundo as minhas correrias.
Já então, como agora, era também coisa que tinha a ver com mimos e afectos.
Adorava o xi-coração. Era tocado.
Depois, e no percurso, aprendi que, a final e na sua essência, é um músculo valente, ou um valente músculo, capaz e responsável pela distribuição metódica e regular do fluido vital.
Mas o sonho de menino não foi de todo desfeito pelas agruras do caminho e do conhecimento.
A subtil consciência (talvez num arremedo de gratidão) empresta e atribue ao coração toda uma panóplia de emoções, fazendo dele fiel depositário da ternura e do amor, do sacrifício e da entrega.
É normal ouvir dizer que um ser tem bom coração, quando em prática de boas acções, sendo as más relegadas para o fígado (então o sujeito terá maus fígados).
Também verdade parece que esta quimera não será igualmente vivida por todos.
São privilegiados os seres que no fosso do sofrimento mantém o espírito livre, tentando substituir por ternura, compreensão e amor a nefasta raiva, desespero e ódio.
Esses vão encontrar no coração o sentido do sem sentido da vida.
Perguntarão vocês o que tem isto a ver com o LUÍS.
Creiam que muito!
O Luís é um dos seres, que de há muitos anos para cá, semanalmente, me foi tocando e por tal tem lugar cativo quando no meu coração se canta o hino dos afectos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Amor antigo

De flor na mão
Hoje acordei e modorrei um pouco lembrando o amor pelo meu dicionário, nesta convivência de três décadas.
Como a maioria dos amores, de inicio frenético, a roçar as fronteiras da paixão e depois mais sereno, criada a habituação, afagos mais espaçados, quando a necessidade era efectiva, ultrapassada a curiosidade e a descoberta dos primeiros tempos da ligação das nossas vidas.
Aprendi seus truques, seus cativares, seus sentires, e o seu modo de me atrair quando desejava meu terno folhear. Sim, sempre com ele fui delicado, trajei-o para resistir a intempéries, cedo-lhe o canto predilecto, enfim, presto-lhe afecto.
E, sendo conservador, espero manter este amor até à estrela voltar, o que vai estando na hora. Com tanta demora muito terei de limpar.
Da minha mansa loucura, até aqui não falada, só ontem meti conversa.
Procurado o seu conceito disse-me ele coisa sem jeito, entre outras de somenos: alienação de espírito, demência, imprudência, extravagancia, diabrura, brincadeira desenvolta.
Mas afinal o que é isto, não podia o sujeito ser mais concreto, sem tanta divagação?
E depois, bem, depois, foi coisa dum momento, aberta a ferida, palavra puxa palavra, vozes e letras alteradas, ao tomar conhecimento da definição impingida
Desatinado fiquei; uma destas carapuças servirá a um qualquer, seja homem ou mulher, a muitos e não poucos, podendo dizer seriamos quase todos loucos.
Como vou ser conhecido ? No meio desta confusão, eu queria o exclusivo, só me resta a ilusão.
Discuto, argumento, dou braço a torcer e nem uma linha arredou ou uma folha torceu na sua mania tola e, teimosos, carrancudos, ali ficámos, tal qual dois miúdos.
Nem me atrevo a consultar termos tais como: amor, amizade, ternura, felicidade... mas já me toma a saudade.

Vou deixar-lhe a flor, singelo simbolo de amor.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Fogo da vida

Óleo sobre tela, pintor angolano
O verbo pode ser fraco, sem valor, indubitavelmente d'amor (01-03-2006)
Toda prenhe de candura, tímida chama, calor.
enlevo, só ternura, a crepitar no amor
É depois a chama forte numa louca fantasia
Há desprezo pela morte, há ilusão, há magia !
Vermelhos e amarelos, de braço dado a saltar.
Tão ingénuos e tão belos, numa volúpia sem par.
E em tanto movimento, nasce o aviso da queda
Que faz ouvir o lamento, no pico da labareda
Logo, logo, a amargura, e por vezes tanta dor,
vão sufocar a ternura e os momentos d´amor
Baixa o fogo e a herança, são brazidos em modorra
Jaz ali a falsa esperança Talvez viva ! Talvez morra
Deste breve carnaval, resta a cinza. Vitualha !
E o fumo, seu ritual, que a suave brisa espalha.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Abraços

Entre flores, longos braços em abraços e o texto que aí vai, ser poema não pretende, só um pouco do fado desta vida e do passado
Sem amor, tantos invernos, estou nos céus e nos infernos
ao juntar aos meus abraços, terno calor de teus braços.
Na seara desta vida, quase de causa perdida
Fui plantar meu amor
nos prados, entre a verdura e os ramos de azevinho
Dos teus braços o cordão e com o sol de alimento
há-de chegar o momento de colher toda a ternura embalada no carinho

Do vento virá maleficio, se do sol se for a fonte, na linha do horizonte.
Chega assim a tempestade, no gemer desse lamento
e daí o sacrifício de teus braços ir perder
e, sem ser essa a vontade, eu te deixo em liberdade
e continuo a sofrer.
Do nada me resta a esperança,
serem brisas de bonança
teu amor a devolver

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Amor e Paz


Não cultivando mostrar presença,
não visito templos a hora de culto.
Todavia...
Talvez preconceito ou mesmo mania
Sem saber ao que ia visitei um dia
Uma capelinha, não me lembro qual,
Agradado fiquei, noite especial.
Pequena pedra polida, colorida
Aos presentes foi atribuída..
Surpresa e mistério!
Durante a cerimónia e com parcimónia,
raminho de oliveira a explicar o critério,
Incutir desta maneira PAZ e PERDÃO
Pedrinha a lembrar jamais atirar
Raminho a lembrar ao amor dar a mão.
A pedra ainda hoje a vejo
e de atirar perdi o desejo.

Se queres levar uma pedrinha
Tira ali da caixinha.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Futuros

Obrigado, minha amiga. Uma flor para ti.

Quando se ultrapassou a meia idade e até a esperança média de vida humana e o vigor físico e a apetência para alguns objectivos tidos de continuidade nos dizem "parece mentira", surgem diversos problemas a resolver, entre os quais se avoluma o dos afectos.
E o mais complexo entre eles, sem dúvida, a ligação homem/mulher e tudo que ela implica, no seu vasto leque de entrega, ternura, carinho, amor e até sexo.
Encarando com honestidade a própria realidade e, sendo "realista", terei de admitir que esse afecto não poderá garantir a ultrapassagem do hoje e agora.
É um campeonato em que o jogo é hoje e, SE vencermos, tornamos a jogar amanhã, não deixando de dar merecida atenção no ênfase à condicional.
E só este distanciamento do futuro permitirá colher da fonte esse fio de prata da felicidade.
Esta reflexão brotou duma amena conversa com amiga recente, com a qual manifestamente empatizo, cuja idade poderá estar entre os 50/60, vivendo só e sentindo-se bem afectivamente, afirmando que, se porventura tivesse de agir nesse campo, gostaria encontrar "alguém com quem pudesse envelhecer de mão dada".
Tivera ela mais uma dezena de anos e, em silêncio, lhe estenderia a mão.
Não com aquela ideia ilusória de futuros, mas no sentido de ganhar o jogo do dia e a serenidade de espírito para tentarmos jogar e ganhar, também no dia seguinte. E assim por aí...

Envelhecer não, viver sim!!!
Mas sou louco e mais velho. Porventura por isso me caberá este discernimento.

domingo, 29 de março de 2009

Testamento

Outro texto de amor, aqui a lugar próprio,
em vez de repousar no outro canto,
onde dormita está desde 30-07-2006



E ali estava eu com o pé esquerdo pousado naquele belo e fofo solo azul celeste, polvilhado de algodão.
Êxtase e surpresa, não tanto pela inclusa sugestão da morte, mais pela benevolência da paradisíaca sentença.
Todos vamos cometendo erros na travessia e temeroso andava pelos fogos do outro lado, que com o calor não me dou.
Logo me passou na mente a ideia peregrina de, aproveitando o momento, lá pousar o outro pé e dar uma espreitadela.
Nessa querença e com crença, meti o pé direito e no consolo de o pousar... acordei !
Acordei aos pés da cama virado.
Belisquei a coxa e doeu.
Era tudo encenação e travessura de sonho bom.
Dei a volta completa e, paciente, aguardei o regresso da alma que, de seu hábito, tardava a voltar dos devaneios nocturnos para tomar conta deste corpo e prepará-lo para novo dia que de sol era, já alto e vestido a rigor.
Não deixou de ser belo o sonho enganador.
Passe a lisonja da absolvição, não deixou também de ser aviso da certeza do evento.

À cautela, e sem descuido, irei lavrar testamento dos dois lotes que me restam:
- o dos bens, pela natureza emprestados e no percurso moderamente me serviram, vou legar a quem deles cuidar, recomendando o bom uso
- o do amor que me deram, encheu meu coração e deu luz ao tal percurso, esse, que me desculpem, decerto vou precisar e comigo vou levar

sexta-feira, 27 de março de 2009

Amor sem memória

As fotos são obséquio da Ana Honorato, "hospedeira" destas pequenas maravilhas


A força do instinto e da perpetuidade, presente em toda a vida animal, assemelha o conceito humano do amor.
É porventura um amor sem memória, limitado na função e no tempo e, sobretudo, sem preconceitos.
Tomado, entre tantos, o exemplo da galinha coquicha, aqui ao lado, criada em "casa de acolhimento", longe de campos de tortura e extermínio, por aviários conhecidos.
Digamos que, à parte algumas pequenas mordomias acrescidas à natureza, a galinha cumpriu o seu instinto, embora facilitado, nem sequer rejeitando ovos não gerados por si.
Os filhotes saídos há muito pouco do mistério do ovo, tem imediata aptidão para as agruras da vida, necessitando apenas de aprendizagem técnica na procura de alimento, exercícios de defesa e sobrevivência, tais como fuga a espécies predadoras e limpeza da farta plumagem natural e ainda, e por sua vez, predando outros pequenos seres, não esquecendo a segurança e abrigo temporário das intempéries ou temperatura sob a asa protectora.
Capacidades por ela exercidas, com total entrega e desvelo e repartidas igualmente pela prole, sem olhar a quem.
E é tão nobre o exemplo que usamos o termo de "mãe galinha" na suposta exagerada protecção aos nossos filhos.
A seu tempo, ganho o vigor e aprendizagem, seguem o ciclo individual, repetindo, repetindo, aparentemente sem preocupações afectivas, culpas, ressentimentos, nem outros futuros ou passados. E, ainda também aparentemente, vivendo a vida pela vida, ali e agora.
O conceito humano é mais elástico, complicado, duradouro, prolongado por vezes além dos limites razoáveis, na vivência de uma plêiade de sentimentos, afinal apenas morando na falível e perecível memória.
Estando tão em voga os prós e os contras, e feitas as contas, fiquei por aqui a cismar , em face do exemplo, se vale a pena ser diferente.

quarta-feira, 25 de março de 2009

A escalada

Também, também este texto é de amor, amor e desespero, embora não pareça.
Foi inserido em 05-09-2007 no outro canto.
O quadro, acrílico sobre tela 30x40 (o modelo uma foto).






Para conhecer do sentido da vida, havia-me proposto chegar ao topo.
Estou cá em cima.
As expectativas foram iludidas.
Sobre a cabeça a ilusão do azul celeste e farrapos brancos esvoaçando esbaforidos ao gélido bafo do vento.
Nem folha nem fumo.
Nem árvore, nem ave, nem o seu pio.
Afinal aquele sentido havia de ter sido retirado do desafio da escalada e durante a sua superação.
Entre a pregagem das estacas devia ter dado um compasso de espera, olhando em volta, imaginado até as árvores, as aves e os seus gorjeios e talvez até flores.
Na ânsia da descoberta esqueci o sonho, abafei-o, e resta apenas o desespero de não ter caído eu, quando perdi quem me seguia.
Ali, no topo, nada mais resta.
Vou espetar a bandeira da angustia, infeliz marco da minha presença neste lugar insólito e iniciar a facilitada descida, onde encontrarei o sentido do nada.

Amor/Amizade/Amor




Publicou a Maysha um belo texto sobre a amizade, por mim comentado, deixando uma questão.
Era ela a diferença entre amor e amizade.
Ambos os sentimentos integram algo de sublime:
abnegação, presença na ausência, entrega, dedicação e... ah... encontrei uma e se calhar única diferença.
A amizade exige em regra retorno, correspondência e daí o dito de ser amigo de seu amigo.
No amor, aí não.
Posso amar sem barreiras, até mesmo sem conhecimento do alvo desse amor.
Amar até quem não me ama, não me conhece ou me esqueceu.
Só que o amor passeado desta forma, pode exaltar-se e tem de se cuidar do seu chegado vizinho, essa coisa feia chamada de ódio que recuso olhar, sequer de soslaio.
Bom... que se desculpe qualquer coisinha, pois isto pode ser tudo conversa sem justificação, escrita enquanto o meu mp3 me delicia o espírito com as Czardas e os gemidos e exaltação do violino que o afago do arco lhe provoca...