quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Vazio

Mania humana, suponho, a quantificação.
Na satisfação desse devaneio, inventam-se padrões de subordinação, complicados, por vezes, no anseio que valham aqui e noutros mundos.
Para o tempo, seja lá ele o que seja, lembrámo-nos do ilusório calendário (anos meses, semanas, dias) e, não contentes, o seu principal acessório, o relógio (então para horas, minutos, segundos).
Enfim, no olvidio da nossa poeirenta e finita existência, vamos mantendo a coisa afinadinha, no fundado temor de deixar escapar alguns preciosos segundos no turbilhão dos milhões de anos da presença humanoide nesta bolinha azul.
Não ficando por aí, os padrões surgiram também para medir, pesar e tudo o mais.
Tem de bater certinho para ninguém ser enganado.
Parece resultar isto do próprio convívio humano e nem sempre é mera cusquice, antes mentalidade implantada (quanto anos tens, quanto ganhas, quanto medes, quanto pesas e por aí).
No amor e noutros similares afectos esbarramos, pois o padrão ainda não foi consensual e não passamos de meras tentativas susceptíveis do fácil contraditório.
És o amor da minha vida, amo-te tanto e outros, não passam de padrões individuais, arrastando consigo a enorme dificuldade comparativa do libido e das almas de cada ser.
Quebra-se assim o hábito pelos sentimentos e lá se vai o monge, dando o insólito lugar à perplexidade.
Porventura será que tudo isto terá real importância quando a ciência nos demonstra que afinal a aparente matéria e tudo o que nos rodeia não passa do vazio ?
E até os nossos próprios pensamentos ocorrem em zonas vazias do nosso cérebro ?

Afinal, olho a tela e desespero, por parecer a semente verdadeira e inteira e trazer no ventre a flor e o fruto, dela brotando a vida e o amor e também a dor e o luto e, no evoluir desta emoção restar apenas ilusão.
Acrílico sobre tela-2009 (30x40)

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