quarta-feira, 22 de abril de 2009

Birras (amizade e amor)


Não sou de permitir que birras ou amuos tendam a destruir qualquer ligação de amor ou amizade e porventura nem todos assim somos.
Posso ser de tempestades repentinas.
Todavia mesmo convencido que a razão me assiste, logo tento abrandar os ventos e chamar as bonanças, tentando ver as razões que ao outro são assistentes.
Aquela minha intima ligação ao dicionário, de tantos anos, continua encravada desde a briga sobre a estranha definição de loucura e não por mim, mais por ele.
Evitando ofender com a presença de modernos dicionários, procurei na estante companhia, juntando-o a outros da sua geração, de inglês, francês, espanhol, que literalmente desprezou, derrubando-os com a sua corpulência, na recusa flagrante de amizade ou amor.
Ponho mais apuro ao folhear suas páginas, tento o carinho que repudia, colando páginas, revirando-as e dificultando o acesso.
E foi aqui que meti o pé na argola.
Resolvido a tentar o máximo, percorri as livrarias, tentando encontrar companhia feminina para aquele meu amigo. Talvez o amor puro fosse a cura e me perdoasse.
Em cada loja, quando pedia uma dicionária de português, ou saía risota ou espantação e houve até um que delicadamente me mandou à merda. Não fui, claro, e entrei noutra loja onde, por sorte, encontrei pessoa simpática, ainda há uma meia dúzia, que me explicou em pormenor a dificuldade.
Não existem dicionárias. Grande bronca.
Estava explicada a perpetuidade da rezinga.
Devia ser insuportável viver sem o eterno feminino
Olhar a sua solidão fez-me doer e coisa que não gosto é de sofrer.
Eu que me pensava só e tenho a possibilidade de encontrar o complemento em género e talvez até em sensibilidades e gostos afins, sendo o único entrave a idade e a selectividade por ela arrastada.
Tristonho dicionário, tem razão, vive num sonho sem realização..
Pode a cruz do nosso fado ser carga demasiada. Haverá sempre mais pesada.
Do coração, hoje fica a flor em botão

3 comentários:

Baila sem peso disse...

"Posso ser de tempestades repentinas"...desatinas????
Huumm...e eu que ando sem condição
de aqui deixar uma rima na perfeição!! :)...
Para te dizer querido amigo
que o dicionário é castigo
que para ser todo sabido
leva anos de conversação!
Mas isso tu já sabes, pois então!!
E que o lugar dele é na estante
onde a leitura sempre te garante
numa bela biblioteca, sem clausura
e tocá-lo...com toda a ternura!
Que seja consultado todo o dia
mas com olhos, de pouca rebeldia...
E se a dicionária não existe
outro nome lhe assiste!
E deixar de olhar a solidão
se ele estiver sempre à mão!
Que importa como lhe chamar?
E se a carga é pesada
tem de se levar num andor
todo enfeitado de flor
para não causar tanta dor...
daí teres emprestado ao texto
esse botão feito de Amor!
O fado é triste condição
que na voz leva perdão!
E sim, outros dicionários
sempre na terra, cantarão...

Beijinho meu, querido amigo, e nada de amuo ou birra...fiquei algo triste, irra! :(

Anónimo disse...

Gostei muito deste texto que,curiosamente,interpretei como
uma bela metáfora.
Enganada? Sim ou não...ñ lhe retira a beleza.
Abraço.
isa.

Paula Raposo disse...

Penso que a idade nos traz uma outra selectividade...sem dúvida. Beijos.