segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os burros

Há alguns anos por coincidencia do curso de vida, ou interesses familiares, entre outros, mais uma vez, como tantas me aconteceram, transferi a minha estadia fisiológica para esta zona, onde, talvez também por uma daquelas coincidencias que acabam por condicionar a nossa mente, passava anualmente uns dias de férias aquando menino e porque não dizê-lo bom moço.
Eram aqueles tempos em que o automóvel era luxo, mas lembro bem que a viagem, curta embora, efectuada no autocarro de carreira, cestinho de verga com os precisos no tejadilho e olhos extasiados (cereja no topo do bolo)  postos nas árvores que em sentido contrário corriam e já então sentia necessidade de abraçar, pinheirais imensos que ainda os havia.
Antevisão da aprendizagem de bicicleta, o cheiro a campo, de mangualde a malhar milho na eira, o figo de capa rota sobre o poço de água fresquinha e os animais, ah os animais, não só o então já muito explorado porco de engorda e cuja linguagem jamais compreendi mas sobretudo os burros e sim, com esses aprendi a zurrar, acariciando as longas e felpudas orelhas e sabia bem os consolos que me iriam dar quando os montava ou ia de sol a sol para as vindimas para depois pisar a uva no lagar da família que me alojava. 
Desses mansos animais apenas temia o seu calçado forrado a metal, pelo que o convívio tinha de ser devidamente acautelado, mas garanto que continuaria a zurrar de bom grado, se eles por aqui existissem, correndo embora o perigo de me chamarem de louco, coisa que sei de há muito.
Sucede porém que, aparte alguns galináceos ou ovelhas, os burros desapareceram aqui da cena poderei dizer por completo, ressalva a uns quantos que perderam qualidades, e com quem evito o convívio, pois zurram mal e as orelhas são curtas e não peludas, alguns deles até imitando os pavões, apenas no sentido do seu pavoneio pois nem sequer imitar o valente grito são capazes.
E assim desiludido não vejo avançarem os meus êxitos nesta coisa da linguagem das outras espécies, das quais exceptuo as cobras, que essas também as há por aqui, não por horror mas porque falam muito baixo e, confesso, no meu estado de saúde e audição, só vou ouvindo aquilo que me convém.
Mas ainda sobre este meu interesse pelos burros, subsiste uma estranheza.  Burro porquê ? Porque a humanidade resolveu tratar de forma pejorativa um animal que em todos os tempos o ajudou a amenizar a sua diária tarefa de subsistencia.
Burros e porcos e aqui tenho de confessar que nunca falei nem me entendi com estes últimos, mas estou porventura convencido que andam por aí muitos sob disfarce.
Outra confissão que tenho de cometer é que antes de ter iniciado este escrito da treta devia ter feito pesquisa, hoje tão facilitada, para melhor entender certas coisas.
Só me desculpam as dificuldades de visão que venho atravessando, ou, se calhar, também tento ver apenas aquilo que quero.
Que alguém me perdoe, mas tinha de ajustar este desabafo para memória futura, se nesses tempos vindouros alguém se vier a dar ares de se  interessar pelos meus pesares.
Neste momento o texto não me parece só da treta mas longo que baste. pORVENTURA, como foi pensado há pouco a olhar a chávena do café, nunca me passou pela mona enfraquecida que ao digitar desse nisto
Outro que ainda não tem fotografia, mas sim, irá ter.

1 comentário:

Parapeito disse...

Tantas lembranças boas :)
Eu gosto de burros...ressalvo... burros de quatro patas...do seu olhar doce...das orelhas felpudas e da sua paxorra para aturar os outros burros de duas patas :)
Como sempre é bom chegar ao BEM ME QUERES e poder "acompanhar" as suas vivências sempre tão cheias de conteúdo que nos enchem a alma e algumas vezes sãs loucuras que nos rasgam o sorriso...
Um abraço cheio de brisas mornas***