segunda-feira, 20 de setembro de 2010

LABIRINTOS

O leigo chama de louco todo aquele cuja conduta é aberrante ou no menos desviante das linhas de comportamento que o homem foi estipulando como normais na sua ansiedade de harmonia global que certamente jamais atingirá.
E daí, cada mente, esse labirinto em que também o homem se perde com demasiada frequência, carrega com isso labutando na vã tentativa de enquadrar o bem e o mal, o certo e o errado. valendo-se do contexto e do conhecimento que lhe vai sendo impingido no curto ou às vezes longo percurso no manejo do uso e costume e sua dificil integração ao meio.
Um destes dias, estando eu num snack olhando absorto a chavena do café, um casalinho, ao lado, pediu dois pregos à jovem funcionária que de seguida replicou que a loja de ferragens era em frente.
Logo a seguir, contente pela loucura dos outros, saí e entrei na loja ao lado a namorar uns sapatos, contando contrariar a minha incapacidade decisória na compra dum par.
Era dia de sorte, estava a ser atendido um sujeito manifestamente com pé 41 que exigia o funcionário lhe ensaiasse sapato 35 e, perante o espanto do profissional, rogava suplicante.
Oh homem ajude-me. Esta semana foi demais, perdi o emprego e o carro, a mulher deixou-me e a TV avariou.
Insisto, quero 35 e levo calçado e já antevejo o gozo que vou sentir quando chegar a casa e me sentar no sofá que lá resta e tirar os sapatos.   Bolas, alguma coisa de bom me aconteça hoje.
O dia estava a correr bem mas não ficou por ali.
À saída, satisfeito e coxeando, lá se foi e, grato, despediu-se de mão do funcionário.
Logo de seguida este começou a contar os dedos.
Aquilo começava a ser demasiado para mim, mas, perante o meu justo espanto o homem explicou.
Era extremamente desconfiado e receava que naqueles apertos de mão a um desconhecido e a bater mal, lhe roubassem algum dedo.
Bom, com tanta areia já tinha a camioneta cheia e saí, sem apertar a mão ao homem, mas um pouco horrorizado por ver que aqueles tipos dificilmente encontrariam a saída do labirinto em que sem cuidado se haviam deixado meter.
Ando eu por aqui a apregoar que sou louco quando, afinal e se comparado, sem modéstia, serei porventura dos mais certinhos.
Também entrei e percorro o meu labirinto mas tive o cuidado de ir deixando umas pedrinhas pelo caminho e, em caso aflitivo, poderei facilmente retroceder e sair pela entrada, não ficando cativo da necessidade de encontrar a unica saída.
Os sentidos do ser humano são na realidade armas poderosas.
Vá vamos sorrir para não deixar fugir esse que é o do humor porque o do amor está de pedra e cal, a residir.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A RIQUEZA DOS AFECTOS

Os afectos compatíveis podem ser em cada ser compostos em ramalhete, pois  amor, ternura, carinho, meiguice, são no seu todo frutos da mesma semente embora de diferente coloração.
O senão é que podem não florescer em conjunto no mesmo ser, acontecendo que quem não os reconhece quando os recebe é quase certo ser paupérrimo nessa área e, não os possuindo, não os pode redistribuir.
Vem isto a propósito do horror demonstrado por mulher adulta, mãe e avó, (provando assim a inexistência de afectos na sua triste alma) quando lhe confidenciei que, desde sempre tratava as minhas netas por meus bichinhos.
Elas, minhas netas, hoje a entrar na idade adulta, sempre rodeadas de amor, ainda não dispensam esse tratamento, pois além da entoação com que o faço elas sabem bem que são base e topo da pirâmide dos meus afectos e para sempre vão viver na minha alma.
Sabem também do meu amor, respeito e aceitação de todos os seres que a natureza colocou ao nosso redor de forma a prestar um pouco de beleza à vida,
Até diziam que eu falava com os animais porque, obtendo resposta da minha imitação de seus pios ou cantares  tinha o engenho de lhes contar o que me respondiam.
Assim e contrariamente a outros bens, essencialmente materiais, os afectos tem esse dom lindo de enriquecer quem os dá, engordando a alma como diria amiga minha, e satisfazem plenamente quem os recebe desde que os compreenda e, nesta área, só se poderá compreender aquilo que efectivamente se possui ou sente.
Já tinha prometido enviar para a gaveta estes loucos textos que vão chamar de treta mas este ainda terá um pouco de vida virtual.
Desculpem lá qualquer coisinha, mas o louco sou eu.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

BÚSSOLAS

Em seguimento ao texto das encruzilhadas e pelo telefone falou-me um sujeito que a preceito me questionou porque não comprava eu uma bússola na tentativa de encontrar o caminho certo em vez de escrever estas merdas a chatear os outros.
Não, não fiquei estupefacto, porventura o facto até resultou catita e virtuoso, porque assim já somos dois a pensar o mesmo da qualidade da minha escrita.
Nem me passou pela cabeça chamá-lo de cretino, pois, aproveitando a sugestão, logo fui à cidade a loja da especialidade e solicitei à atenciosa jovem me vendesse uma boa bússola capaz de me indicar um bom destino.
Respondeu ter algumas mas, funcionando e com sorte, apenas indicariam o norte.
Foi repentino este toque de campainha, pois também já me haviam chamado de desnorteado e, sendo assim, até convinha e, porque não, talvez fosse a solução.
Comprei uma e aproveitando a gentileza perguntei se tinham GPS que indicasse o caminho para a felicidade mesmo para gente da minha idade.
A resposta negativa, tão perfeitos não tinha mas aguardava, lá para o verão, de alguns próprios para pessoas sem razão.
Com a promessa de voltar, fiquei-me pela bússola, mas como sou poupado logo pensei procurar outro desnorteado.   Seguiria acompanhado, teria com quem falar e as despesas da viagem partilhar.
Há sempre a hipótese de, quando chegar ao norte, daquilo não gostar e sempre será mais útil outra cabeça a pensar para saber a melhor forma de regressar.
Todavia mesmo que parta sózinho vou pôr a pata ao caminho, pois quando lá chegar se vir que aquilo não agrada de algum modo hei-de sair.
Mas antes a chave do blog vou deitar ao caixote para não ouvir mais dichote.
Ena, escrevi tanto e tão malinho! O tipo tinha razão !!!

domingo, 5 de setembro de 2010

ENCRUZILHADAS

Lá consegui dar a volta ao espelho e tanto insisti que, for fim, me mostrou o menino que por força tinha de ter existido em mim. A perseverança sempre resulta mas não se compadece das agruras do percurso.
Alguns pretensos filósofos afirmam que fazemos o nosso próprio caminho, o que parece uma verdade à La Palice, sendo óbvio que a opção é quase sempre pessoal e o dito só pode servir o sentimento de culpa após verificação do logro na escolha.
Na pele desses filósofos e prevendo situações de indecisão que tantas e tantas vezes nos assaltam, sugeria não esquecermos duma moedinha para, quando deparamos as encruzilhadas substituirmos os anseios, os engodos, as duvidas e as incertezas pelo acaso do cara e coroa tornando à moeda as culpas e à malvada da sorte, todo o tipo de regozijo ou lástima pela decisão tomada.
E, na falta da moeda, restará o dólitá que no mesmo dará.
Cá está o cruzamento e eu vou por aqui sem lamento e curioso, pois fiquei engodado ao ouvir o murmúrio sussurrante de água a correr e estou sequioso, quero beber e, pela fé que tenho, pode ser até resulte em maravilhoso banho.
Olho o teclado e dão-me certas ganas de o atirar pela janela, libertando-me de vez desta mania de escrita louca em que acabo por dizer coisa pouca.
Bom caminho e, se me sobrar carinho, poderei escrever em folha, rascunhando estas coisas de treta que acabarei por enfiar no escuro daquela gaveta.
Claro que continuo com loucura mansa, mas, como quem procura sempre alcança, dizem-me que além de manso sou louco moderado e até estou medicado e as pastilhinhas são magenta.  Lindo.
Bem, este ainda publico!
Até um dia e não sorria, pois pode acontecer a todos e, como não me parece grave, desejo as pioras porque de fechar o blog começam a ser horas.