Continuo a distingui-los na essência; amizade, exige troca, e amor, quando bate verdadeiro, é pura dádiva, não carecendo sequer da reciproca.
São dois sentimentos extremamente semelhantes e motores de alguma confusão, ambos portadores da capacidade de se transformarem um no outro pelo faiscar de um qualquer impulso especial.
Se calhar já a muitos sucedeu a amizade profunda abrir a porta ao amor e também o profundo amor esbater-se em sedimento de amizade.
Depois existem algumas grandes emoções/sentimentos agregados.
Destaque à paixão, essa doença do amor, vírus de curta duração e se metaboliza na maior parte dos casos em ódio ou, mais curioso ainda, em absoluta indiferença.
O ciume também faz das suas, tanto num caso como noutro e acaba por mostrar a insegurança de quem o sofre, dissipando, embora lentamente, quer a amizade quer o amor.
Para complicar este fado existem seres a refutar a amizade, pelo receio dela venha a emanar uma parcela de amor, ou, mais grave ainda, pela parca dádiva disponível nas suas almas.
Seres de almas cativas, pobres e sobretudo inseguros.
Passam sequiosos e de copo na mão ao lado da fonte da vida, hesitando em beber e esquecendo que daquela água jamais poderão sorver, se a deixarem correr.
Não correm riscos, não podem colher.
Passam então a outra etapa com a sombra da culpa a acompanhar o restante percurso até ao grande portal de saída.
E sei do que escrevo porque já tentei estabelecer amizade sem êxito, reaprendendo o que já sabia: às melhores intenções correspondem, por vezes, as maiores decepções.