sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Convidados


Levados por mim, ao sitio cheguei com o casal de emplumados.
Haviam sido "embalados" em caixa de cartão com rasgos para respiração.
A viagem correu de bom vento, exceptuando a curva e a travagem que provocava lamento.
Alojados em casa onde vivera um cavalo, parece ter agradado, sobretudo ao galo.
Habituado às humanas gentes, estranhei e invejei a falta de bagagem, mas aguardava algumas reclamações, das patentes e precárias instalações.
Como urbano hospedeiro, ciente da dificuldade de entendimento, afoitei tímido cacarejo e mesmo um cócórejo e na volta o que vejo ?
Sacudidelas de cabeça e som semelhante ao gargarejo, não sei se de ironia ou critica pedante.
Sem WC, suite, fogão de sala e televisão, aquele aparente bem estar não era coisa de gente, carecia de razão, era de estranhar. E, sobretudo, disposição que continuava a invejar.
Lá os deixei, resolvido do sol ao luar, ir observar.
Levantavam-se com o sol. Ele de lindo e colorido rabo alçado, cocorejando segredos de intimidade a preparar-se para a prol e ela, em cumplicidade, não esquiva mas altiva, com sobranceria que até humana parecia.
Da sobrevivencia tratavam e, por aqui ou por ali, sem pressas depenicavam, e não temiam, como os humanos, o mundo às avessas.
E era o uso diário, sem terem noticiário.
A falta de conhecimento, favorecia o sentimento.
Pela saída do sol, ele, esquecendo a prol, pulava lá pelo alto, e ela ali não ficava pois qualquer som a assustava, mas pela manhã voltava.
E foi assim, dia a dia, até vir a tempestade e a ventania levá-los, com a casa dos cavalos.
A partir de então não sei onde estarão, nem mesmo se vivos são.
Sendo a vida vai e vem, bem certo é que cada um vai desejando aquilo que não tem.
Quanto mais me aproximo dos animais, mais aprendo, e os ditos humanos menos entendo.

1 comentário:

Baila sem peso disse...

Uma prosa poética de animais
de patas, de asas que voam
sem querer de sonhos saber
Uma prosa poética de muito mais
de aves que apregoam
um cantar de acordar e adormecer...

uma vida na simplicidade
da vida crescer na imagem
e um dia só se perder
porque a Natureza tem seu querer...

e o humano no seu ciclo infernal
impondo tanta condição afinal
olhando o qualquer animal
o acha, um ser bem mais natural!

Gostei da forma poética explicada
muito bem adornada...de amor enfeitada!
...e a ironia da vida humana estampada!

Beleza da tranquilidade...
Boa semana em boa qualidade!

Meu beijo nesse desejo