sábado, 29 de janeiro de 2011

DOR E SOFRIMENTO

Dor e sofrimento, sempre de braço dado, amigos de longa data, unha com carne, parecem frutos da mesma árvore.
Diria que talvez mas alimentando-se de distintas raízes.
Casal sorrateiro, procuram alojamento em seres debilitados, de limiar álgico vulnerável onde a dor se ceva na carne que resta e o sofrimento trata do foro psicológico, parecendo ir beber aos estados de alma e da influencia da experiência do passado.perspectivada no futuro nebuloso, deixando esses seres com baixas hipóteses de liberdade.
Mas enfim, em muitos casos lá continuam de braço dado, e, como as coisas da vida, com eles só a morte vai acabar.
A solução é espírito forte e cuidarmo-nos, segundo minha opinião.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A volta às flores.

Este texto publiquei-o há alguns anos após a conversa havida com uma florinha, hábito meu de então-
Hoje tive uma vontade imensa de voltar a ele, porque alguém me comentou, usando de grande generosidade e dizendo que eu era uma boa alma.
A ser verdade, o que não creio, as boas almas são castigadas de vez em vez..
Por força tenho de voltar às flores e à grande necessidade de voar.
—Obrigada !
Olhei à volta. Ninguém.
Óptimo, pensei. Agora já não falo sozinho, ouço vozes.
E logo anotei a vantagem de abandonar o monólogo.
O obrigada repetiu-se, e, dessa vez, guiado pelo som, descortinei uma florinha amarela, repousando em berço verde nas fissuras da calçada.
— Obrigada porquê ?
— Não me pisaste. Sabes, sou filha bastarda duma lufada de vento.As minhas irmãs tem sido pisadas ou colhidas e assim fiquei só.
— Não gosto de colher nem de pisar flores.
— Como tu há poucos, por isso vivo nesse medo. Os homens são muito estranhos, mostram-se atarefados, atropelam tudo e seguem sem mostrar compaixão, correndo dum lado para outro.Será que sabem o caminho ?
— Suponho que não.
— Certa vez passou por aqui um sábio que me disse que os homens são contraditórios: Perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Pensam ansiosamente no futuro, esquecendo o presente e acabam por não aproveitar nem o presente nem o futuro. Vivem como se nunca morressem e morrem como se nunca tivessem vivido. É tão estranho !
— Podes crer. Acham também que praticando os rituais aliviam a sua consciência. Olha por exemplo no que toca a flores. Sem compaixão, colhem as mais belas, atam-nas em molho e depois, quer para celebrar a dor quer a alegria, oferecem beleza morta.
— Por isso vivo em pânico, ainda bem que não sou assim tão bela.
— Pelo contrário, além de seres uma bela flor, consegues também ser uma flor bela, lá onde não se vê, e, toma nota, isso entre os humanos não é fácil. Muitos não passam de encadernação de luxo em obra vã.
Pairou o silêncio e, passada uma eternidade, ela voltou a falar:
— Tu hoje foste a minha luz, o meu sol, quem me dera poder voar.
— Também gostaria de voar. É a liberdade !
— Não só. Quando o sol não viesse a mim, eu poderia ir até ele.
Chamei de novo o silêncio e afastei-me para que ela não visse o orvalho nos olhos do seu sol.

sábado, 22 de janeiro de 2011

As vestes da humildade

Ainda sobre o corredor da vida, faz três meses que o meu, devido a algo de maligno, se estreitou e, não fora a perícia e dedicação dum cirurgião e sua equipa, teria franqueado a porta de saída.
Foram-me assim permitidos mais três meses de vida e pese embora grande parte em dois cativeiros com a inerente dor e sofrimento, o segundo me permitiu constatar, tão embebido andava a lamber as minhas feridas, que estive em risco de não me aperceber, nem dar o devido apreço à ternura, carinho, afecto, amor, que me dispensaram companheiros de antigas actividades e outros mais recentes da escola sénior, de bloggers que nunca vira e sobretudo do meu filho e nora que, não olhando ao encargo, me tomaram como se seu filho fosse.
Aí acordei um pouco e perguntei-me a razão porque motivo outros davam mais valor à minha sobrevivencia do que eu próprio e lembrei também conversa posterior com o cirurgião que me disse ser eu um homem forte.
Nunca fui nem quero ser ingrato e não hesitei na minha obrigação de passar a investir um pouco do meu animo em cada dia mais que me seja oferecido, evitando assim desmerecer as manifestações de afeição de tantos a que, aparentemente, poderia não estar a dar o devido apreço e encontrando forma de me redimir.
E como a humildade é uma vestimenta que me apraz usar, aqui deixo o meu agradecimento e coração a todos aqueles que ainda me creditam algum préstimo pedindo desculpa se passei um pouco à ligeira aquele período de maior sofrimento e consequente menor discernimento.
BEM HAJAM TODOS SEM EXCEPÇÃO, CONTANDO COM O VOSSO PERDÃO.

domingo, 16 de janeiro de 2011

o corredor da vida

Se me propusessem explicar a vida diria que é um corredor sem espaço ou duração definida, limitado por um lado pela entrada ou nascimento, para o qual não contribuímos nem solicitámos e pelo outro pela letal e inexorável saída sem retorno, a morte, a verdade final de cada ser vivo.
Servidos do livre arbítrio, após longa manutenção e aprendizagem pela experiência, durante a qual somos dependentes da entrega e do amor dos outros, vamos fazendo o percurso um pouco à toa, desprezando mor das vezes, esse amor dos outros e a luxuriante paisagem que a natureza nos oferece a cada passo dos varandins do corredor, suas serenas brisas e sussurrantes águas.
Não nos bastam todavia essas mordomias, pois ambição desmedida, sonhos e anseios, levam-nos aos devaneios.
Olhamos lá ao longe, desprezando e não usufruindo o que temos tecendo desejos cujos únicos ensejos são mais nos aproximarmos da saída onde os projectos se esvaziam sem substancia.
Nem mesmo quando no percurso somos enfraquecidos por pancada forte e dela saímos mais ou menos ilesos, tentamos emendar a mão e munidos desse trunfo o jogo possa ser outro e dele tirarmos o verdadeiro partido, no cerne aproveitarmos o que nos é oferecido.
Bom, mas basta de paleio, vejo ali uma bela flor e com ela vou palrar um pouco, talvez até falar de amor e saber se, também ela, tem o anseio constante de olhar para a frente, conhecer outra gente, outras abelhas que provando do seu néctar projectem a sua beleza para lá do portal e quiçá tenha a ideia louca de vir a ser imortal.
Se assim for terei de lhe recomendar que não troque o que tem por fantasias que não passam de manias a que ninguém convém.

sábado, 8 de janeiro de 2011

cativeiro

AUTO RETRATO 
CONTAGEM DE TEMPO NO CATIVEIRO.
PELO MENOS O PIJAMA ERA AZUL!!!
LÁPIS E ACRILICO SOBRE TELA 25X25

terça-feira, 4 de janeiro de 2011