segunda-feira, 26 de julho de 2010

RAIVAS

Há uns dias ia a sair aqui do sitio e fui abordado por duas mulheres entre os 5o e 6o anos de idade e uma delas, digamos talvez a mais atraente, com seu rosto bonito e cabelos dourados, resolveu ser a interlocutora da nossa conversa e colocou a questão se eu era crente.
Respondo sempre com a minha verdade. Como seria eu capaz de não ser crente ao saber que um minúsculo espermatozoide, de conluio com um também minúsculo óvulo, conseguiram criar aquilo que estou a ver e me agrada mesmo, tal como a minúscula semente lançada à terra pode originar uma magnifica e altaneira árvore.
Fiz um espaço para caberem algumas outras questões que lhe bailavam no cérebro e a minha tentação era ter continuado como segue e que não fiz.
Se a sua pergunta implícita a crença num todo poderoso Deus, eu teria de lhe perguntar porque foi retirada do meu convívio uma filha que hoje teria aproximadamente a sua idade e estou certo que qualquer resposta me desse seria quase um insulto à minha inteligência.
Despedimo-nos cordialmente.

domingo, 25 de julho de 2010

sangramentos

Sendo o sangue o fluido de circuito interno da manutenção de vida, parece razoável que todos tenhamos algum pudor e receio, quando o vemos fluir por uma qualquer fissura naquele seu tom avermelhado vivo.
Já até li ou ouvi aleivosia tamanha deste género: desconfio dum animal que sangrando todos os meses e abundantemente durante alguns dias, não morre. O que só prova que se a estupidez evitasse a crise, decerto o País não estaria no estado actual, ou, se por acaso fosse musica, andaríamos por aí quase todos bailando, mesmo os de estupidez assumida.
Mas, voltando ao tema, acho que é um chato dum encargo que a mulher assume e suporta, essencialmente para assegurar aquela sua brilhante e suprema capacidade de ser mãe.
Sendo talvez o que me detém no desejo de ser mulher, esse ser maravilha, mãe do mundo.
Mas o sangramento não é pêra doce, é chato mesmo e eu que o diga que hoje, pela terceira vez me aconteceu ao dar uma cabeçada no portão da garagem insuficientemente levantado, não se compadecendo apesar da minha baixa estatura.
Podia assacar a culpa ao cão que me estava a distrair, mas não sou de colocar a culpa ao outro quando ela aponta na minha própria direcção, aqui a falta do necessário cuidado.
Valeu-me, nas outras vezes, o conselho imediato do meu bruxo, palavra de mimo que empresto ao médico e não sem sentido, pois é profissão bem dura que, além do conhecimento e dos meios comuns de diagnóstico hoje ao dispor, concorre ainda com a falta de informação pessoal do próprio interessado que na maior parte das vezes se convence que a profissão há-de conferir ao outro alguns poderes mágicos de adivinhação.
Assim, no caso de hoje, aproveitando o anterior conselho, lavei o caudal e pressionei durante algum tempo o local contuso.
Depois lá consegui, bem ou mal, betadinar o local e aqui estou de sangramento aparentemente retido.
Passarei a ter mais cuidado com o portão da garagem.


Ao meu bruxo, o meu reiterado carinho e a flor

quarta-feira, 21 de julho de 2010

SEDUÇÕES

Forçosamente anda o juízo arredo da minha existência, que por longa até permite margem de desculpa, corrido o risco de apelidarem de macaquices a minha branda loucura.
Em face dum comentário privado a um texto de blog e que a visada encontrou assertivo, no escrito entrou a sedução e os seus efeitos, quiçá maléficos, segundo sua recente experiência.
Como em tudo na vida, pelo que vemos, até nos sedutores existem brechas de ética.
E pronto, foi lume suficiente para levantar a fervura na minha panela e logo me lancei na procura de solução, juntando ideias à volta do conceito, não fosse saltar-me a tampa, provocando a consequente perda de ideias que já vão escasseando.
Sem ir ao livro cheguei a um resultado parecido comigo.
Sou seduzido pelo que me agrada e adoça a existência e, tratando-se de outro ser, acho que a coisa merece alguma inteligencia e caldos de galinha.
Seduzir tem a ver com o desejo que o outro me aceite e implícita a ideia de que a alguém agrada saber que sou. É sim um jogo de vida e de espelhos, duma ampla troca de imagens e sentires, concretizando-se o processo no encaixar de afinidades, sem utilização de falácia ou astucia, antes pela prática da humildade, sinceridade e respeito, sem o que suponho nada feito.
Não quero com isto dizer que o outro me caia nos braços, patamar que a ser atingido pode ser extremamente complementar, ao permitir o toque nesse enlace entre sedutores e seduzidos e aí fundir todos os sentires em algo mais além.
Será. Aqui deixo o grito !
Seduzam-me, seduzam-me, seduzam-me...

IMAGENS

Ainda ensonado, encostei a barriga ao lavatório e, olhando em frente, lá estava o sujeito do costume, envelhecido, barba por cortar, a fazer cair sobre mim um olhar triste e inquisidor.
E, como todas as manhãs, ainda não convencido, tentei mais uma vez encontrar, no que via, o menino que por força ali se esconde e sinto pulular cá dentro e, pese embora jamais o tenha descortinado, sei que existe.
Vou dar ao espelho o beneficio da duvida, talvez não seja tão astuto como se pensa, e fico na esperançada ilusão dessa visão, quão grata me seria.
O reflectido algo acrescenta, pois fico a saber como os outros me vêm quando com eles me cruzo e não como me sinto, ficando triste por também não lhes ser possível verem este menino que não ressalta à vista mas se entretém na brincadeira com a grande panóplia de sentires que o coração à disposição lhe deixa, gerando por vezes aquela confusão e desarrumo tão normal nesses seres limpos e puros.
Ah quem me dera houvesse espelhos com coração e ternura e fielmente me reflectissem.  Dizem estar tudo inventado mas a verdade, a minha, é que ainda não encontrei um assim.
Vou continuar nesta busca que reforça a minha mansa loucura. Procuro, procuro, procuro...
Se por acaso o encontrar trarei aqui a foto. Prometo

sexta-feira, 16 de julho de 2010

PELES

O homem desde há muito, servindo-se do seu engenho e da tecnologia, fabrica tecidos com que se agasalha.
Eles tem origem nos mais variados materiais, servindo o negócio e a insatisfação humana, em constantes mutações a que, por principio, apelidam de moda.
Palavra que aqui significa: isso ainda te serve, mas o vizinho já tem diferente e mais moderno, cobrindo e servindo assim outros defeitos da humanidade a que me reservo o direito de não colocar nomes.
Há contudo uma rainha no fabrico de tecido que a todos supera:
A natureza resolveu dotar o pobre homem dum tecido riquíssimo e assim a pele humana e os seus milhões de pontos sensíveis é, pelo menos sob o meu ponto de vista, a maravilha que delicia a polpa dos meus dedos e, sempre que alguém o permite, eles afloram suavemente, toda essa fantástica cobertura do corpo, acordando e fazendo vibrar esses minúsculos pontos que ao cérebro transmitem sensações inversamente proporcionais à leveza do toque.
O toque é sem duvida um veiculo de grande afecto e tolo me parece quem toma por iguais os conceitos de acariciar e apalpar.
Mas pronto, como não regulo bem, poderá ser não tenha razão.
Com razão ou sem ela, da flor faço questão, pois nisto existe amor.

sábado, 10 de julho de 2010