Sou, desde há muito, perseguido por um certo sonho, estranho na sua recorrência.
Talvez me traga certo acréscimo de amargura e ansiedade, decerto por mal, para quem como eu preza e cultiva a disciplina da pontualidade, .
É sempre o embarque para uma viagem, não sei qual o destino, ou talvez saiba, em que, por isto ou aquilo, de somenos e não importa, jamais chego a tempo e o barco, comboio ou avião, já fechou a porta e lá se vai sem mim, suavemente deixando o cais de embarque, de forma provocatória, gorando a vã tentativa e o esforço corrido.
Creio ser travessura da perversa mente, contra a qual não actua armadura, indo contente ao baú do meu passado rebuscar entre as muitas viagens dos meus 20 aos 50 anos e que hoje me pergunto se teriam destino marcado.
Seja como for, o troco deste sonho é o seu final feliz.
Constatar, ao acordar, a pouca relevância do meu atraso e continuar a correr o prazo.Fico tranquilo! Voltando ao outro lado não penso naquilo e a mente matreira, a sorrir, mais meia hora me deixa dormir, compensando a noite inteira, sem o mau olhado do antes sonhado.
Pode ser falta de amor, mas porventura merece flor.