quinta-feira, 22 de abril de 2010

Viagens


Sou, desde há muito, perseguido por um certo sonho, estranho na sua recorrência.
Talvez me traga certo acréscimo de amargura e ansiedade, decerto por mal, para quem como eu preza e cultiva a disciplina da pontualidade, .
É sempre o embarque para uma viagem, não sei qual o destino, ou talvez saiba, em que, por isto ou aquilo, de somenos e não importa, jamais chego a tempo e o barco, comboio ou avião, já fechou a porta e lá se vai sem mim, suavemente deixando o cais de embarque, de forma provocatória, gorando a vã tentativa e o esforço corrido.
Creio ser travessura da perversa mente, contra a qual não actua armadura, indo contente ao baú do meu passado rebuscar entre as muitas viagens dos meus 20 aos 50 anos e que hoje me pergunto se teriam destino marcado.
Seja como for, o troco deste sonho é o seu final feliz.
Constatar, ao acordar, a pouca relevância do meu atraso e continuar a correr o prazo.
Fico tranquilo! Voltando ao outro lado não penso naquilo e a mente matreira, a sorrir, mais meia hora me deixa dormir, compensando a noite inteira, sem o mau olhado do antes sonhado.


Pode ser falta de amor, mas porventura merece flor.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dizeres/entenderes

Tem os humanos o hábito de usar frases e rituais, na mor das vezes cujos entenderes são diversos dos literais dizeres.
Estou a recordar a história do encontro de amigos (um cego, outro paralítico):
Diz o cego: Então ? Como andas ?
Olha, é como vês, responde o outro.
Porventura é suposto conter humor do mais negro, penso eu, mas a perversa da malícia faz sorrir o ateu e dá calor à conversa, tudo entendido sem agravo ou ofensa, por conter outro sentido.
E também o olá, bom dia, não vale um caracol se o dia não for de sol.
Diz-se e ninguém ouve, sendo uma espécie de mania ou etiqueta da treta, para algo se dizer e mal não se parecer.
Mas hoje não quero ir por aqui, pois se me distraio derrapo e acabo feito trapo, sem saber o que escrever que de resto é mais do mesmo.
Quando leio que alguém tem bom coração, tenho por força de saber, do autor a profissão.
Se da saúde for profissional, fica coisa directa e bem banal: é coração de bom músculo a cumprir sua missão, mantendo a circular o liquido vital.
Se psicólogo, padre ou bom cristão, levo a coisa pro amor, compaixão ou piedade, temas que são do espírito e da personalidade e terão de ver com a mente ao invés do coração
Enfim, não quero gerar confusão por tão pouco, embora sempre tenha a desculpa do louco.
Por favor, tenham bom coração, levem isto pro humor.
Assim sendo. é amor e, como é de preceito, merece flor.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Outros afectos

Questionei certa vez um massagista acerca do seu êxito profissional.
Não podia estar melhor pois toda a gente gosta de ser coçada, foi a resposta pronta e insólita.
Acreditei no homem e na extensão do dito a outras espécies, pois até o cão, aquele amigo que com frequência visito, meu companheiro de descanso ali em baixo, não despreza e até pede esses afagos coçarentos.
Pacifica-se, aquieta-se, abandona-se e fecha os olhos deliciado.
Ora como isto dos afectos, pelo meu ponto de vista, carece de troca e não imagino aquela patorra unhenta na minha pele sensível, pergunto-me onde estará meu quinhão e concluo que o gozo provem e é proporcional à aceitação e gozo dele, vindo a troca de forma diversa.
Não é fácil a conversa.
Ainda não ladro em perfeição e não tem ele estudos linguísticos, dada a tenra idade, pelo que nos limitamos, ressalvadas pequenas e honrosas tentativas, à comunicação do silêncio.
Aí temos o precioso auxilio dos olhos, toque e atitudes, artífices eficazes da repousante e compensatória conversa silenciosa, coisa que não se obtém nesta web onde se perdem virtudes na sua virtualidade e se promovem afectos sem virtudes.













Se isto é de amor, eis a flor !