Logo esse afecto não pode advir ou brotar apenas do legado de adn para aí se esgotar, resultando antes de presença, dedicação, desvelo, cedência, incondicional entrega e concretizando-se na ternura do toque.
Amor sem medida.
Espanta-me por tal tantos interessados haja nas suas remotas ascendências, endemia que por aí grassa e da qual já fui tomado, pese embora o dito espanto.
Parece grave, convindo porém não ser o meu caso. pois já deixei atrás bem claro que a parcela de adn herdada (para o bem e para o mal) desses antepassados, com quem pessoal e obviamente não privei nem conheci, vale o que vale, restando esta mórbida curiosidade de saber, nomes e datas, nascimentos, casamentos, partidas, peças dum jogo de equivalências e comparações que a hereditariedade sempre permite e de que nós humanos tanto carecemos.
Aquelas informações são alimento da imaginação na criação de cenários doutras vivências, noutras épocas, de seres para quem, apesar do legado pela natureza imposto e por eles nem pressuposto, pouca importância teria tão remoto e aleatório descendente, seja este frágil eu que um dia também entrarei nessas brumas de futuro/passado.
Assim posso dizer que o gozo deste conhecimento quase se esgota nos imaginados cenários da vida de então quão diferente da actual na medida em que o homem na sua ansiedade evolutiva, acelera, esforça e prejudica o processo.
Dizia-me um especialista em insectos que adorava a sua profissão pela perseverança daqueles em milhões de anos, ressalvados alguns ajustes ao meio, na quase imutabilidade da cena padrão das suas vidas e responsabilidade no equilíbrio do sistema.
Com o homem e por lástima é necessariamente diferente. Foi dotado da inolvidável dádiva do raciocínio, pensando, sua aparente ruína, por nada lhe parecer servir na manutenção do equilíbrio natural, exaurindo-se nas mordomias dos falaciosos confortos.
Olho o cenário dos dias de hoje, em que mal grado meu me suponho inserido, talvez por lapso sempre admissível, e munido dessa poderosa arma da imaginação, aí vou, em planado voo, a trezentos anos atrás e observo o movimento dos seres, talvez não tantos, carregando coisas sem peso e demasiado pesadas, seus eternos problemas na via do nascimento, vida e morte, afectos, sentimentos dos bons e dos maus e contudo livres da maioria dos supérfluos que a poeira dos tempos foi acrescentando, sem grande proveito, às seguintes gerações.
Será que estou com uma pontinha de inveja ?
Se é por bem, assim seja.
Se é por bem, assim seja.