quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Brumas

Tem os afectos familiares na sua génese a essencial e dependente relação de proximidade entre parentes.
Logo esse afecto não pode advir ou brotar apenas do legado de adn para aí se esgotar, resultando antes de presença, dedicação, desvelo, cedência, incondicional entrega e concretizando-se na ternura do toque.
Amor sem medida.
Espanta-me por tal tantos interessados haja nas suas remotas ascendências, endemia que por aí grassa e da qual já fui tomado, pese embora o dito espanto.
Parece grave, convindo porém não ser o meu caso. pois já deixei atrás bem claro que a parcela de adn herdada (para o bem e para o mal) desses antepassados, com quem pessoal e obviamente não privei nem conheci, vale o que vale, restando esta mórbida curiosidade de saber, nomes e datas, nascimentos, casamentos, partidas, peças dum jogo de equivalências e comparações que a hereditariedade sempre permite e de que nós humanos tanto carecemos.
Aquelas informações são alimento da imaginação na criação de cenários doutras vivências, noutras épocas, de seres para quem, apesar do legado pela natureza imposto e por eles nem pressuposto, pouca importância teria tão remoto e aleatório descendente, seja este frágil eu que um dia também entrarei nessas brumas de futuro/passado.
Assim posso dizer que o gozo deste conhecimento quase se esgota nos imaginados cenários da vida de então quão diferente da actual na medida em que o homem na sua ansiedade evolutiva, acelera, esforça e prejudica o processo.
Dizia-me um especialista em insectos que adorava a sua profissão pela perseverança daqueles em milhões de anos, ressalvados alguns ajustes ao meio, na quase imutabilidade da cena padrão das suas vidas e responsabilidade no equilíbrio do sistema.
Com o homem e por lástima é necessariamente diferente. Foi dotado da inolvidável dádiva do raciocínio, pensando, sua aparente ruína, por nada lhe parecer servir na manutenção do equilíbrio natural, exaurindo-se nas mordomias dos falaciosos confortos.
Olho o cenário dos dias de hoje, em que mal grado meu me suponho inserido, talvez por lapso sempre admissível, e munido dessa poderosa arma da imaginação, aí vou, em planado voo, a trezentos anos atrás e observo o movimento dos seres, talvez não tantos, carregando coisas sem peso e demasiado pesadas, seus eternos problemas na via do nascimento, vida e morte, afectos, sentimentos dos bons e dos maus e contudo livres da maioria dos supérfluos que a poeira dos tempos foi acrescentando, sem grande proveito, às seguintes gerações.

Será que estou com uma pontinha de inveja ?
Se é por bem, assim seja.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pomba branca

Acrilico s/tela 30X30

Certo dia encostei meu ouvido ao teu peito e senti o tic-tac do pequeno grande coração. Perguntaste então, lá do alto da tua candura, se todos os corações batiam ao mesmo tempo.

Pese embora não batam, a voejar ficou no pensamento a ternura desse teu sentimento.